Publicado em O Estado de S. Paulo, 20/11/2001.
A produtividade vai encurtar a recessão
Dentro do quadro desanimador da economia mundial, os ganhos e a manutenção da produtividade das empresas surgem como grandes esperanças para encurtar o sofrimento. A grande maioria das empresas nos Estados Unidos, União Européia e outras partes do mundo (inclusive Brasil) continuam alavancando a sua eficiência com base em novas tecnologias e melhor uso da força de trabalho.
Nos Estados Unidos, a produtividade industrial anualizada cresceu 2,7% no terceiro trimestre do ano 2001, o que constituiu uma grande surpresa. Ninguém esperava um desempenho tão impressionante. Para se ter uma idéia da sua enorme magnitude, uma produtividade de 2,7% ao ano permite dobrar o nível de vida dos americanos em 20 anos!
Na União Européia, dados comparáveis aos dos Estados Unidos, indicam que, para o mesmo período, a produtividade cresceu 1,8% (The Economist, 10/11/2001), o que também é significativo quando se considera o estado de recessão em que vive a maioria dos países da zona do euro.
No Brasil, a produtividade média do setor industrial na década de 90 foi de 4,7% e os especialistas estimam uma certa estabilidade para 2001 embora, é claro, a produtividade média da economia brasileira seja apenas uma fração da produtividade média dos países mais avançados.
Esses dados indicam que os ganhos de produtividade decorrentes de um melhor uso dos insumos (inclusive trabalho) que foram a tônica de toda a década de 90 continuam vivos. Em uma pesquisa realizada entre 31 países, a OIT demonstrou que, apesar das dificuldades de comparação, o custo unitário do fator trabalho vem decrescendo em quase todos os países como resultado de expressivos aumentos de produtividade. Isso significa que as empresas, com o mesmo custo-hora de trabalho, produzem mais bens e serviços (Bart van Ark e Erik Monnikhof, Productivity and unit labour cost comparisons, OIT, Genebra, 2000).
Dentre os vários benefícios de um quadro como esse, há que se destacar a contribuição do aumento da produtividade para manter os preços baixos, reduzir a taxa de juros e estimular o consumo. Aliás, já no mês de outubro de 2001, os consumidores americanos surpreenderam o país com um aumento de mais de 7% em suas compras, o que significou um acréscimo de US$ 307 bilhões na economia - o maior ganho mensal desde a década de 60.
Portanto, há sinais positivos no front. Os anos 90 foram um tempo de pesados investimentos em tecnologias modernas e qualificação de mão de obra. Isso não foi perdido. Ao contrário, são esses fatores que estão permitindo às empresas trabalhar eficiência crescente e custo cadente.
O tema da produtividade é cercado de controvérsias que não são objeto deste artigo. Mas, mesmo com os impecilhos metodológicos que prejudicam comparações perfeitas, os atuais níveis de produtividade dos países avançados estão tão altos que podem muito bem se transformar em verdadeiros guindastes para tirar aquelas economias da recessão.
Nas devidas proporções, isso pode ocorrer também no Brasil. Nos últimos 15 anos, a indústria brasileira passou por um forte ajuste em decorrência da abertura comercial e aumento da concorrência. Hoje, o Brasil possui uma indústria mais moderna e mais forte do que nos anos 80. Entre 1996-99, a receita líquida das indústrias brasileiras, aumentou quase 35%, ao mesmo tempo em que os gastos com pessoal subiram apenas 6,5% em decorrência de redução de quadros e terceirização.
As empresas industriais ficaram menores e mais eficientes. Em 1985, as grandes indústrias (mais de 500 empregados), respondiam por 48% do pessoal ocupado; atualmente, 37%. As médias empresas (101 a 500 empregados) empregavam 25% dos trabalhadores e hoje estão no mesmo patamar. Mas a participação das pequenas empresas (5 a 100 empregados) no emprego industrial, passou de 27% para 38% - um aumento de 40%.
Se a recessão é dura para ser vencida com empresas eficientes, seria uma catástrofe se elas tivessem perdido a sua competência.
Tudo indica que a revolução industrial dos anos 90 veio para ficar e continua dando bons frutos. Oxalá o Brasil possa superar as incertezas que forçam as autoridades monetárias a manter os juros tão altos. Com uma queda nas juros, uma melhoria no custo Brasil e a normalização do abastecimento energético, a "economia real" parece pronta para recolocar o País na rota do desenvolvimento. Daí para frente é continuar educando para que nossos níveis de produtividade possam chegar perto daqueles que são observados nas nações mais avançadas.
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