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Publicado em O Jornal da Tarde,27/03/1996

Pouco emprego e muito trabalho

Passou por São Paulo o Professor William Bridges, autor do livro Um Mundo sem Empregos, Editora SENAC, 1996.

De acordo com suas previsões, dentro de uns dez anos, mergulharemos definitivamente na era dos trabalhadores temporários; dos subcontratados; da força de trabalho "just-in-time" - flúida, flexível, descartável. Será uma revolução gigantesca.

Naquele mundo, as pessoas terão de navegar por conta própria. A atividade mais constante será a de vender continuamente as suas idéias. As empresas deixarão de contratar profissionais. Elas contratarão soluções. Quem tiver boas soluções, terá muito trabalho.

No lugar do emprego fixo surgirá o trabalho com prazo determinado, por projeto, por tarefa, em tempo parcial, de forma intermitente; com jornadas flexíveis, horários livres, etc.

Nos Estados Unidos, entre os 113 milhões de americanos que trabalham para empresas, 80% são em tempo integral e 20% em tempo parcial. Na década de 70, eram 92% e 8%, respectivamente. O maior empregador americano, hoje em dia, é a "Manpower" - empresa de mão de obra temporária - que tem um quadro de 560.000 trabalhadores.

No mundo do futuro, uma grande parte do trabalho realizado pelas empresas passará para o próprio consumidor ou usuário. Veja o que já acontece nos bancos. Os caixas eletrônicos são locais onde o trabalho - outrora realizado pelos funcionários do banco - é feito pelo próprio cliente. Quando um médico encurta uma internação hospitalar para cinco dias, que antes era de oito, uma parte do trabalho do hospital passa a ser realizado pelo paciente e sua família.

Os novos trabalhadores terão de possuir uma cabeça de negócios. Isso será essencial num kit de sobrevivência para essa nova realidade.

Como enfrentar essa revolução? A resposta mais óbvia é educar bem as pessoas para terem flexibilidade. Infelizmente, poucos sabem como preparar os trabalhadores para solucionar problemas. Esse é um enorme desafio para as escolas e agências de formação profissional.

Uma outra medida importante para facilitar o ajustamento é mudar a legislação trabalhista para acomodar, legalmente, essas novas formas de trabalhar. Não haverá sindicato ou partido político capaz de fazer os empresários a empregar todos os trabalhadores por tempo indeterminado.

Neste campo, os políticos precisam ter a coragem de abandonar a fantasia de que o "emprego" será a tábua de salvação. Apesar disso render bons dividendos eleitorais, tal pregação é totalmente inviável. Nossos políticos precisam parar de disseminar essa perniciosa ilusão e começar a falar honestamente sobre o trabalho do futuro.

Os trabalhadores do futuro terão de ser versáteis, multifuncionais e polivalentes. Por isso, é mais importante investir na sua preparação do que na ficção do emprego permanente. é mais urgente reformular a legislação atual do que insistir na manutenção de leis ultrapassadas.

William Bridges defende abertamente a tese de que criar empregos é uma estratégia errada. Preparar as pessoas e a sociedade para aproveitar as novas oportunidades de trabalho é a estratégia certa. O novo mundo vai exigir trabalhadores que usem bem o tempo; que pensem antes de agir; que levem em conta os custos; que saibam administrar. Esses são os ""ativos" fundamentais no mundo do futuro. Quem realmente deseja ajudar os trabalhadores tem de melhorar a sua preparação e facilitar a sua contratação.