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Publicado em A Folha de São Paulo, 01/05/1998

Profissional vai precisar dominar sua área e muito mais

Afinal, as tecnologias vão empregar ou desempregar no futuro? Há profissões condenadas à morte? Há outras que vão nascer? Quem vai sobreviver? Os estudiosos da revolução tecnológica dizem que seus reais efeitos só vão aparecer depois do ano de 2010. Até lá, haverá uma grande transformação no mundo do trabalho.

Muitas mudanças já aconteceram nos últimos 20 anos. As máquinas tornaram-se surpreendentemente inteligentes e baratas, passando a fazer o que antes só era feita pelos trabalhadores, transformando-se em seus concorrentes.

As novas tecnologias permitem inúmeras mudanças nos modos de produzir, o que, por sua vez, exige trabalhadores mais alertas, com uma boa dose de bom senso e capazes de transferir conhecimentos de uma área para outra.

Essa é a tendência do futuro. Os profissionais terão de dominar uma grande gama de conhecimentos, não só de seu ofício, mas também de áreas correlatas. É a era da polivalência.

Isso não quer dizer que, da noite para o dia, os cidadãos não qualificados ficarão sem o que fazer. Em todos os países ainda há uma proporção expressiva de trabalhadores manuais de baixa qualificação.

Mas está em curso uma rápida modificação nessas profissões, em direção a mais educação. Isso já acontece com as arrumadeiras de hotel, ajudantes de caminhão, serventes de pedreiro, motoristas de ônibus, tratoristas e várias outras profissões, que tradicionalmente demandavam pouca capacitação.

Algumas profissões são pressionadas mais do que outras, mas quase todas estão requerendo aprendizagem contínua. No mercado do futuro, tenderão a declinar as profissões que independem de contatos com outras pessoas, e a crescer as que envolvem interação entre profissionais e clientes.

As modificações na composição setorial deverão prosseguir. É bem provável que, até o ano de 2020, os atuais 25% dos brasileiros que trabalham na agricultura venham a ser reduzidos para uns 15%.

A mão-de-obra da indústria deverá cair dos atuais 19% para cerca de 14%. E os setores de comércio e serviços (incluindo administração pública) tenderão a passar dos atuais 51% para 71%.

Dentro de cada setor, as mudanças serão intensas. Na agricultura, prevê-se um forte declínio das profissões manuais e aumento de profissionais que dominam as tecnologias mecânicas, químicas e biológicas.

Na indústria, prenuncia-se a redução das profissões que envolvem atividades repetitivas, que usam a força muscular, e um crescimento dos que utilizam a força cerebral - engenheiros, administradores, financistas e técnicos.

No setor comercial, deverão aumentar os que trabalham no "comércio eletrônico" - promoção e realização de vendas, serviços de entregas e assistência aos clientes.

Nos serviços, crescerá a demanda pelas ligadas à saúde, educação, viagens, hospedagem, alimentação, entretenimento, seguros, administração, importação, exportação e atividades financeiras em instituições não-bancárias.

O mundo do futuro será permeado por um grande número de profissionais autônomos nos campos da administração, cuidados pessoais (crianças, doentes e velhos), reparação e manutenção, educação, compras, vendas e corretagem.

O mercado de trabalho deverá reduzir a influência do apadrinhamento e aumentar o papel da capacitação. Em, todas as profissões, as oportunidades serão preenchidas por quem for capaz.

Uma coisa é certa: o Brasil terá de escolher entre mais educação ou menos trabalho; alta competência ou baixos salários. Quanto mais educada estiver a população, menor será o nosso cinturão de pobreza.