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Publicado no O Estado de São Paulo, 04/11/2014.

Os atenuantes do desemprego

Vários estudos têm mostrado que o baixo desemprego no Brasil decorre de uma redução do número de pessoas que procuram trabalho. Isso explica, em grande parte, a convivência de uma taxa de desocupação de apenas 5% com uma geração de emprego que diminui a cada mês.

A redução do número de pessoas que procuram trabalho ocorre com maior intensidade entre os jovens, como resultado de mudanças demográficas e econômicas.

Do lado demográfico, há muito tempo as mulheres decidiram ter poucos filhos. Dados do IBGE indicam que, entre 2000 e 2010, a proporção de moças de 20 a 24 anos que tinham pelo menos um filho caiu de 47% para 39%; no grupo de 25 a 29 anos, a queda foi de 69% para 60%; e entre as que tinham 30 a 34 anos a redução foi de 82% para 76%. Ao diminuir o nascimento há 15 ou 20 anos, é claro, provocou-se uma redução da oferta de jovens nos dias atuais.

Mas essa redução se dá também pelo fato de muitos jovens ficarem mais tempo na escola e outros permanecerem em casa sem estudar e sem trabalhar - os nem-nem. Nos dois casos, eles adiam a procura por trabalho e reduzem a taxa de desemprego.

Cresce entre os pesquisadores a ideia de que o adiamento do início da carreira profissional decorre da melhoria da renda das famílias que já não precisam forçar os jovens a procurar trabalho. Se este é o quadro, muitos analistas preveem uma forte alta do desemprego no momento em que a renda familiar baixar por causa do anêmico crescimento econômico que se anuncia para 2015, o que forçaria uma grande quantidade de jovens a buscar trabalho para ajudar seus pais e a si próprios. A continuar a pequena geração de emprego constatada em 2014 (menos de 1 milhão), isso elevaria a taxa de desemprego em 2015.

Não acredito, porém, que a volta desses jovens ao mercado de trabalho seja imediata e em massa. Isso porque, para uma parcela expressiva dos jovens, o prolongamento da sua vida escolar tem sido ajudado por programas sociais gerais como o Bolsa Família e a elevação dos valores das aposentadorias, que melhoram a renda disponível das famílias, e também por programas sociais específicos como o Fies (de financiamento estudantil), voltado para o ensino superior, e o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), que garante os livros para a educação fundamental e média. Esses programas, criados há muito tempo e com outros nomes, foram muito ampliados. Em 2013, o Fies atendeu quase 600 mil estudantes de nível superior - 48% a mais que em 2012. O PNLD distribuiu mais de 100 milhões de livros didáticos, atendendo cerca de 30 milhões de alunos do ensino fundamental e médio, e vem crescendo ano a ano.

Quando se juntam os efeitos desses programas e a relativa melhora de salários da maioria das categorias profissionais (acima da inflação) que decorre de um mercado de trabalho ainda apertado para vários setores da economia, penso que em 2015 uma parcela expressiva de jovens terá o necessário apoio para seguir estudando, sem trabalhar. Não vislumbro, pois, a volta de uma avalanche de jovens para o mercado de trabalho ao longo do próximo ano para pressionar a taxa de desemprego para cima.

O quadro não é tão claro, no entanto, para os nem-nem. Estes contam apenas com a renda do domicílio onde moram. Uma eventual queda de ganhos por causa do desemprego dos adultos ou aumentos de salário menores que os atuais podem, de fato, forçá-los a procurar trabalho para recompor os ganhos familiares e a pressionar a taxa de desemprego para cima. O que se sabe, porém, é que a situação dos nem-nem é transitória. Hoje já é assim. Eles ficam alguns meses parados e voltam para trabalhar. Em seguida, param e repetem o ciclo. Não vejo nada mudando nesse campo em 2015.

Assim, nas previsões do desemprego para 2015 temos de considerar o papel atenuante dos programas sociais indicados.