Com esse título instigante, o último número da revista The Economist apresentou uma interessante análise do envelhecimento da população mundial (Age invaders, 26/04/14). Li esse artigo de olho na situação do Brasil, em especial, no campo do trabalho.
Diz o bom senso que os idosos são menos produtivos. Entretanto, a referida análise trouxe surpresas animadoras. Nos países desenvolvidos, as pessoas de 60 anos e mais estão trabalhando por muito tempo. Entre os americanos, a proporção de idosos que permanecem em atividade subiu de 13% no ano 2000 para 20% nos dias atuais e entre os alemães passou de 25% para 50%. São pessoas de 65, 70 e 75 anos - e até mais - que continuam em atividade e que gostam do que fazem.
Outra constatação: os idosos bem educados têm um nível de produtividade muito alto porque as suas atividades se baseiam mais no conhecimento do que na musculatura. Em consequência, eles ganham mais, poupam bastante e dão menos despesas ao Estado. Na França, muitos idosos de 80 anos são ativos e poupam 134% mais do que as pessoas de 55 ou 60 anos.
O que eleva o prolongamento da vida profissional dos idosos é a boa educação. Nos Estados Unidos, entre os que têm curso superior, 65% continuam trabalhando; entre os que ficaram só com o ensino médio, são 32%. Na Europa, as proporções são de 25% e 50% respectivamente. São números impressionantes e de significado profundo, pois esses idosos estão longe de constituir um fardo pesado e improdutivo para a sociedade, comprovando-se que a educação faz a diferença em qualquer idade.
E o Brasil? Lamento dizer que estamos mal na foto. A proporção de homens e mulheres idosos no mercado de trabalho é irrisória e subiu muito pouco. Entre 1992 e 2012, a proporção de homens com mais de 60 anos que trabalhavam subiu de 7% para 8% e entre as mulheres ficou estável em 5,8%. São proporções muito baixas em face das encontradas nos países avançados.
No que tange aos idosos bem educados, o problema não é menor. A parcela de brasileiros que passaram por curso superior e continuaram trabalhando aumentou de 3% para 9% no período indicado. O contraste é enorme em relação aos Estados Unidos e à Europa.
O fato é que os idosos brasileiros são muito diferentes dos idosos americanos ou europeus. Em 2012, 27% dos idosos brasileiros eram analfabetos! Cerca de 40% tinham quatro anos de escola ou menos. E apenas 9% tinham curso superior completo ou incompleto. Com esse nível educacional, é impossível trabalhar na sociedade do conhecimento que exige versatilidade, bom senso, agilidade mental e domínio de tecnologias modernas.
Qual é a lição para o Brasil? Que precisamos educar seriamente os nossos jovens para que eles possam formar uma geração de idosos bem preparados, capazes de trabalhar por muitos anos, ganhando bons salários, formando suas poupanças e adiando ao máximo as despesas para os sistemas de saúde e de previdência social.
Nesse campo, o nosso desafio é gigantesco. Os jovens que estão na escola hoje e que serão os idosos de amanhã enfrentam problemas gravíssimos. Os próprios professores estão envelhecendo depressa, sem que sejam substituídos por profissionais à altura das novas necessidades educacionais. O desânimo pela carreira do magistério é inegável. Não é à toa que os nossos jovens se saem muito mal nos testes que medem sua capacidade de raciocinar, ler e escrever corretamente. Na última avaliação do Pisa, ficamos em 38.º lugar entre 44 países pesquisados.
A lição é essa. Do bom ensino de hoje nascerá a esperança de contarmos com idosos qualificados e produtivos que, por volta de 2040, somarão mais de um terço da população brasileira. Do contrário, veremos mantido o lamentável e indesejável contraste do quadro atual.