Os leitores que acompanham meus artigos sabem que estou lendo sobre o impacto das tecnologias do futuro no mundo do trabalho. Nas semanas anteriores, focalizei as façanhas dos novos robôs e a chegada dos incríveis drones que entregam mercadorias sem tripulante. Neste artigo, trato da computação neuromórfica - uma combinação de física, engenharia e neurociência que reúne centenas de cientistas europeus no Human Brain Project, mantido com 1 bilhão.
O desdobramento do ambicioso projeto já mostra seu lado prático. Está quase pronto o computador que imita as sinapses do sistema nervoso central dos seres humanos e, por isso, "pensa", toma decisões e corrige seus próprios erros. O que era science fiction virou science fact.
Os novos computadores diferem radicalmente dos convencionais. Estes são programados para realizar tarefas específicas de modo rígido. Os novos estão preparados para observar e avaliar o que fazem e, caso necessário, mudar o curso da ação. Mais fantástico ainda é saber que eles estão preparados para tolerar certos erros.
Imaginem o impacto disso no mundo do trabalho. Acoplados aos robôs mecânicos, os novos "cérebros" darão ordens e contraordens, permitindo fazer ajustes sem a necessidade de parar o processo produtivo e sem a necessidade de chefes e supervisores. Ligados aos drones, eles orientarão toda a logística de entrega de mercadorias. No trânsito, viabilizarão o uso de veículos sem motoristas, reduzindo inclusive os acidentes, pois têm capacidade para antecipar e evitar riscos. As aplicações vão longe. A maioria não se consegue imaginar.
Não é prematuro falar em aplicações, porque essas máquinas entrarão em produção comercial no próximo ano (2015). Completado o trabalho dos cientistas, os países desenvolvidos já preparam os técnicos para lidar com elas. Só na Universidade de Stanford, 760 estudantes estão sendo capacitados para dominar os segredos dessa fenomenal invenção.
Em menos de dez anos, os computadores neuromórficos farão parte da rotina da produção do Primeiro Mundo. E como a economia está globalizada, o Brasil terá de entrar nessa onda. Para tanto, não basta comprar os computadores. Será preciso ter gente preparada para trabalhar com eles e, sobretudo, com os seus desdobramentos. Os operadores terão de estar no mesmo pé dos computadores, ou seja, precisarão ter uma boa capacidade de pensar, corrigir erros e fazer adaptações, o que depende em grande parte de uma boa educação.
Para essas pessoas participarem do processo como adultos daqui a dez anos, as crianças têm de se preparar agora. Quando penso nisso, fico triste ao saber que no teste do Pisa as nossas crianças estão na rabeira mundial: em Matemática, 67% ficam no nível mais baixo daquela prova, enquanto 80% dos estudantes dos países concorrentes do Brasil ficam no nível mais alto. O crônico descaso no campo da educação perdura até hoje. Fiquei espantado ao saber que os investimentos do Ministério da Educação diminuíram 13% em 2013, sem falar na baixíssima eficiência dos recursos investidos.
Sem uma boa educação, não temos a menor chance de participar dos benefícios trazidos pelas novas tecnologias. E, sem isso, será difícil sobreviver e vencer no mundo concorrencial, que se acirra cada vez mais.
O pior é saber que muitos ainda alimentam a ideia de combater as inovações. São os luddistas do século 21. A própria Constituição federal, no artigo 7o, inciso XVII, trata da "proteção em face da automação, na forma da lei". Não duvido de que nas próximas eleições algum demagogo, em lugar de apresentar um programa de melhoria efetiva da qualidade do nosso ensino, venha a propor o tal projeto de lei para banir robôs, drones e computadores pensantes da economia nacional. Será a armadilha condenatória do nosso futuro. Precisamos ficar atentos e votar bem.