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Publicado no Estado de São Paulo, 12/03/2013.

Salários disparam, lucros dispencam

Os jornais da semana passada abriram um grande espaço para destacar que em 2012 a maior empresa privada do Brasil, a Vale, lucrou 74% menos que em 2011. O lucro da Petrobrás igualmente teve uma queda de 36%. No Grupo Gerdau a redução foi de 23%.

Os dados de 2011 já haviam trazido maus prenúncios. O lucro líquido das 209 empresas que estavam na Bolsa de Valores encolheu 23%. Na indústria o resultado foi ainda mais grave.

Em todos os setores, porém, os salários subiram mais que a inflação. Nos últimos seis anos, a sua participação na renda nacional subiu de 39% para 43%, enquanto a participação dos ganhos das empresas caiu de 36% para 33%.

Vários fatores instigaram a elevação do custo do trabalho. Os fortes aumentos do salário mínimo concedidos nos anos recentes pressionaram a base da pirâmide salarial e elevaram os pisos das categorias profissionais e os salários próximos aos pisos. A falta de mão de obra adicionou mais pressão. Segundo o Dieese, em 2012, 95% das negociações redundaram em reajustes salariais superiores à inflação. Na indústria o aumento foi de 5,8% em termos reais. Como a produtividade do trabalho caiu 0,8%, o custo efetivo aumentou 6,6% - a maior alta em 11 anos!

A própria Organização Internacional do Trabalho (OIT) constatou que os salários no Brasil estão crescendo a um ritmo duas vezes maior do que a média mundial, o que explica a forte expansão do consumo, propelida, adicionalmente, pelos programas de transferência de renda do governo e pela acentuada elevação dos benefícios negociados nos acordos e convenções coletivas, incluindo-se aqui os abonos, participação nos lucros ou resultados, alimentação, transporte, cesta básica, previdência privada, seguro saúde, etc.

É importante lembrar que sobre os salários e vários dos benefícios negociados incidem pesadas contribuições previdenciárias e vários encargos sociais. No total são mais de 100%. Isso eleva ainda mais a conta em tela. Esta é também aumentada pelas decisões judiciais (sentenças, súmulas, precedentes normativos, etc.) e pelas crescentes exigências no campo da saúde e segurança. Os estudos internacionais indicam que os custos não salariais do Brasil são os mais altos do mundo. Tudo isso coloca o custo do trabalho num patamar muito superior ao que é refletido simplesmente pelos salários.

Esse quadro seria positivo se a produtividade do trabalho acompanhasse o aumento do custo. Mas a produtividade do trabalho está estagnada há vários anos. Quando se pergunta qual é a proporção do crescimento do PIB que é devida ao aumento da produtividade, no caso do Brasil, isso não passa de 25%, enquanto na Coreia do Sul é de 75% e na China, 93%!

Nessas condições, o aumento explosivo do custo do trabalho conspira contra a competitividade das empresas brasileiras - que, não se pode esquecer, é agravada pelos demais componentes do custo Brasil. Segundo estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2012 os custos industriais tiveram a maior alta desde 2008, sendo o custo do trabalho o responsável pela maior parte desse aumento.

A conjugação desses fatores, é claro, vem comprometendo o lucro. Quando se reduz o lucro, reduz-se o investimento, inibem-se as inovações e a capacidade de crescer e gerar empregos de boa qualidade. Para os setores que podem transferir os aumentos do custo para os preços a consequência é inflação. O Brasil está sofrendo dos dois males: investimento decrescente e inflação crescente. A própria elevação dos preços dos alimentos se deve, em grande parte, ao forte aumento do custo do trabalho nos supermercados e outros revendedores - 3% reais.

Um quadro como esse exige ações bem articuladas de curto e longo prazo. Não há a menor possibilidade de reverter a situação atual meramente com propaganda e medidas tópicas. O Brasil precisa de uma liderança firme para implementar as benditas reformas estruturais.