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Publicado no Jornal da Tarde, 07/10/2009.

Trabalho e tempo livre.

Você se queixa de falta de tempo? Quantas e quantas vezes você atribuiu isso ao excesso de trabalho?

A história mostra que as pessoas, de modo geral, trabalham cada vez menos. Está longe a era em que se trabalhava 16 horas por dia. As jornadas de trabalho encurtam cada vez mais.

Na ponta do lápis, a quantidade de tempo disponível para as pessoas e suas famílias, hoje em dia, é bem maior do que no passado.

É verdade que gastamos mais tempo com deslocamento, especialmente nas grandes metrópoles. Mas, convenhamos, raramente ficamos 16 horas fora de casa.

De onde vem, então, a propalada falta de tempo? Muito simples: na vida moderna passamos a fazer muitas coisas ao mesmo tempo.

Em recente pesquisa, o IBOPE constatou que 90% das pessoas queixam-se que o tempo está passando muito depressa, bem mais rápido do que no passado. Cerca de 86% se queixam que não têm tempo para si mesmo.

A mesma pesquisa, porém, mostra que só no campo da mídia se pode explicar uma grande parte desse fenômeno. Uma parcela expressiva de pessoas (especialmente os jovens), gasta muitas horas no computador. Uma boa parte usa o computador e televisão ao mesmo tempo. Outros combinam longas horas no computador com o rádio ligado. Há também os que vêem televisão e lêem jornais ou revistas e assim por diante ("Hábitos de consumo de mídia na era da convergência", IBOPE, 07/10/09).

A minha observação vai mais longe. Já vi gente na academia de ginástica, pedalando na bicicleta, espionando a televisão, folheando uma revista, conversando com o vizinho tomando refrigerante, e mordendo uma barra de chocolate...

Pior do que isso é o acúmulo de atividades durante o dia. É comum o caso do estudante que passa quatro horas na escola, mais duas para na aula de inglês e outra para a natação -, pouco sobrando para fazer as lições, pois, chegando em casa, gastará um bom tempo na televisão e nas redes de relacionamento no computador. Nos fins de semana, ele combina o atletismo pela manhã com a ida ao cinema à tarde e a balada à noite.

O que acontece com ele, ocorre também com os pais que fazem dezenas de atividades ao longo dos dias e das semanas. É bom lembrar que essas atividades, na maioria, impõem um certo isolamento. Quem vê televisão, vai ao cinema ou ao teatro e exercita-se na academia não tem condições de estreitar seus laços com familiares e amigos.

Como se vê, o problema não é de falta de tempo, mas sim de uma distribuição perversa do nosso tempo. O trabalho pouco tem a ver com isso.