Publicado no Jornal da Tarde, 01/08/2009.
Medo de exame.
Como eu, você deve conhecer muitos médicos que têm medo de médicos. Eles se pelam em face da doença, da cirurgia e de outros tratamentos.
Não vou dizer que isso não aconteça com outras profissionais. Uma cirurgia só não é temida por quem não tem imaginação...
Você deve conhecer também muitos professores que têm medo de serem examinados. Você já reparou que, quando se fala em avaliação de docentes, não se toca em exames. Tudo é aceitável quando a avaliação se limita a uma análise do currículo, dos cursos adicionais realizados e um balanço da assiduidade do docente no ano anterior ou na ultima parte de sua careira.
Quando se toca em exames, porém, a coisa muda. Ninguém quer ser examinado.
Episódios recentes atestam essa ojeriza. Os docentes da Universidade de São Paulo protestaram veementemente em 2009 quando a USP pretendeu avaliar sua competência por meio de exames. Os professores da rede de ensino médio de São Paulo igualmente reclamaram, em 2008, quando a Secretaria da Educação eliminou 1.500 professores que tiraram zero em uma prova de 25 questões.
Neste caso, a associação de seus representantes entrou na Justiça e conseguiu uma liminar permitindo que os reprovados assumissem o ensino dos alunos da rede. Foi preciso aprovar uma nova lei para dar vida a uma questão de bom senso: quem é reprovado não pode ensinar.
No esteio dessa lei, a Secretaria da Educação criou a Escola de Formação de Professores onde, depois de quatro meses de aula, todos os docentes devem se submeter a uma prova para mostrar que conhecem a matéria e sabem ensinar.
Imagino a resistência que terá na Assembléia Legislativa o projeto de lei recentemente enviado pelo Governador José Serra que atrela os reajustes salariais aos resultados de provas a serem aplicadas regularmente pelo governo.
Convenhamos, ser avaliado por meio de exames é estressante. Mas, o que fazer para selecionar e premiar os melhores talentos?
Pode-se questionar a qualidade dos exames e lutar para que as provas sejam suficientemente acuradas para separar o joio do trigo. Mas, ser contra o método, é demais. Não se tem base para isso. Está mais do que provado que o bom desempenho dos alunos depende fundamentalmente do bom desempenho dos seus professores. Ainda que incômodo, temos de reconhecer e aceitar a pratica de avaliações rigorosas. Assim é no ensino, assim é na medicina. |