Publicado no Jornal da Tarde, 06/05/2009.
A violência nas escolas
Ninguém duvida que a chave do bom ensino é o bom professor. Nessa profissão, como em todas, há os bons, os médios e os fracos. Como transformar em bons, os médios e os fracos?
Esse é o grande desafio do Brasil. É uma tarefa gigantesca. Centenas de medidas precisam ser implantadas ao mesmo tempo, a começar pelas que atacam a raiz do problema.
Fiquei impressionado com os resultados de uma pesquisa realizada pela Fundação Lemann realizada em 2008. Ela mostrou que cerca de 95% dos jovens que escolhem os cursos que formam professores tiveram um desempenho medíocre no curso médio. Aí está uma das mais importantes raízes do problema.
O desprestígio da profissão é assustador. Os bons alunos almejam as profissões da saúde e das engenharias. Dentre os poucos que desejam seguir o magistério, a maioria carrega consigo enormes deficiências educacionais, mesmo porque, vindo de famílias mais humildes, tiveram poucas oportunidades de cursarem boas escolas. Sua formação é precária.
Isso é muito preocupante. Nos países mais avançados, dá-se o inverso. Os professores são recrutados entre os que mais brilharam no ensino médio. Na Finlândia, por exemplo, os que entram no magistério estão entre os 10% melhores ex-alunos do ensino médio. Na Coréia do Sul, são os 5% melhores.
O que fazer para inverter esse quadro? A caminhada é longa, mas precisa ser iniciada, atacando-se, de início, as causas do desprestígio da profissão.
A melhoria salarial é relevante, sem dúvida, mas não é a mais importante. Uma profissão desperta interesse quando é bem vista pela sociedade. O clima de indisciplina e de agressões que domina na maioria das escolas de nível médio revela que a sociedade brasileira está fechando os olhos para as péssimas condições de trabalho dos professores. Caso contrário estaria tomando medidas para acabar com essa história de alunos afrontarem professores sem que nada aconteça.
Hoje em dia, pode-se dizer com segurança que a profissão de professor é uma das mais perigosas do país. Para sobreviver, ele tem de se aquietar no seu canto e se sujeitar ao desrespeito cotidianamente praticado, impunemente, por grande parte dos jovens, e com o aval das autoridades e da própria sociedade.
Até hoje não vi nenhuma reunião de pais e mestres em que os pais ficaram do lado dos professores e agiram para mudar o caos reinante.
Nessas condições, o magistério jamais atrairá os melhores talentos. Em minha opinião, esse é o primeiro passo a ser dado na longa caminhada de recuperação do prestígio da profissão. |