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Publicado em O Jornal da Tarde, 08/03/2009.

A mulher do dinamarquês

Miguel Reale dizia que entramos no século da mulher. As transformações são imensas. A maioria das mulheres trabalha fora de casa e contribui de forma expressiva para a renda familiar. Elas continuam se educando mais e melhor do que os homens. Embora ainda expressivas, as diferenças salariais entre os gêneros diminuem.

Mas, nem tudo são rosas. As mulheres continuam com uma jornada dobrada. No lar, trabalham em média 18 horas por semana - três vezes mais do que fazem os homens. Os serviços domésticos são feitos depois de uma longa jornada de trabalho fora de casa.

Para as mulheres, conciliar trabalho e família ainda é um grande desafio. Na verdade, as suas responsabilidades se ampliaram. Nos últimos dez anos, a proporção de famílias que são chefiadas por mulheres no Brasil aumentou e chegou a 35%. Entre as famílias mais pobres, essa proporção é de 42%.

Ao ganharem independência laborativa, as mulheres "ganharam" também uma enorme sobrecarga de responsabilidades. Essa sobrecarga atingiu também as que não trabalham fora de casa. Com a saída para o mercado de trabalho das filhas e das noras, muitas mulheres mais velhas assumiram a responsabilidade de cuidar da casa e de educar os netos.

Falando em idade, sabe-se que, de um modo geral, o homem quando fica viúvo, em pouco tempo, recasa. A mulher viúva raramente recasa. Ela parece ter sido mais bem treinada para cuidar da própria vida. O homem se sente perdido, e parte logo para uma nova união.

Nesses casos, o mais comum é casar com mulher bem mais jovem. É uma "garantia" de bons serviços domésticos por um longo período de tempo.

Quando a mulher não casa, seu destino é ficar só ou morar com filhos, noras e genros que a utilizam como uma empregada doméstica de confiança e que trabalha sem remuneração. Essas são as trajetórias bastante freqüentes das mulheres idosas: solidão ou escravidão.

As mudanças estão em andamento, sem dúvida. Mas o caminho a percorrer é enorme. O homem da Escandinava trabalha no lar quase o mesmo tempo do que trabalha a mulher. Esta, quando dá a luz tem doze meses de licença (parcialmente remunerada) e quando volta ao trabalho coloca a criança na creche que é vizinha do seu trabalho, tendo períodos de folga durante o dia para assisti-la.

Para chegar a esse ponto, o Brasil terá de crescer muito, de modo a poder gerar excedentes de renda para as pessoas trabalharem o necessário e cuidarem bem de si mesmas. Mas, para quem deseja resolver o problema em curto prazo, sugiro casar com um dinamarquês...