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Publicado no Jornal da Tarde, 06/03/2008

Turismo médico

A onda do momento é tratar da saúde na Tailândia, Cingapura e Índia. Ali existem hospitais credenciados nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, oferecendo serviços de primeira qualidade, com pessoal que fala um bom inglês e em um ambiente ocidental.

O que leva as pessoas a procurar esses hospitais? Em primeiro lugar, o preço. Uma ponte de safena que custa cerca de US$ 100 mil nos Estados Unidos, sai por US$ 18 mil em Cingapura, US$ 11 mil na Tailândia e US$ 10 mil na Índia ("Outsourcing the patients", Business Week, 24/03/08).

Isso, em si é muito atraente, em especial, para os 47 milhões de americanos que não possuem seguro de saúde, o que também ocorre em outros países ricos.

As seguradoras estão entusiasmadas. Reduziram drasticamente o preço dos seguros médicos para quem se dispõe a usar esses hospitais. É uma resposta aos problemas de saúde que atingem os países mais ricos.

A segunda razão é a similaridade de técnicas usadas nos bons hospitais da Ásia, com pessoal treinado nas melhores universidades dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Alemanha. Além de credenciados, esses hospitais são monitorados por uma comissão internacional de alto nível.

Ao ler as reportagens citadas, espantei-me com os números. O "Bangkok Dusit Medical Services" (o maior de Bangkok) recebeu 649 mil pacientes estrangeiros em 2007, incluindo-se os casos ambulatoriais e de internação. O "Bumrungrad Hospital" (segundo de Bangkok) vive lotado com doentes do exterior ("Checking into Bumrungrad Hospital", Business Week, 17/03/08).

O Brasil possui centros avançados de medicina em várias especialidades. Os nossos melhores médicos não deixam nada a dever para os grandes expoentes do mundo. Temos também bons hospitais equipados com tecnologia de ponta em várias áreas. Tudo isso poderia atrair muito mais estrangeiros do que atualmente vêem para o Brasil, constituindo-se assim uma boa fonte de divisas, além de projetar uma imagem valorizada do país.

O que dificulta a globalização da medicina brasileira são as manchetes do noticiário internacional sobre o abandono de 54 mil doentes de câncer que não podem fazer radioterapia porque os aparelhos estão quebrados, sem falar na capitulação das autoridades sanitárias no combate a um mosquito que passeia impunemente (é o país da impunidade) na cidade mais turística do mundo: Rio de Janeiro. Esse pano de fundo atrapalha, e muito. Não dá para dizer aos doentes estrangeiros: venham, relaxem e gozem...