Publicado no Jornal da Tarde, 06/02/2008 Invasão de santos chineses Tenho um amigo mexicano que vive no Brasil há muito tempo. Aqui ele estudou, casou, construiu família e fez a sua carreira. Ama o nosso país. Gosta da alegria e da cordialidade do nosso povo. Nos últimos dias mergulhou no samba. Carnaval é com ele mesmo. Vai aos bailes do clube e assiste pelo menos a um grande desfile. Neste ano ele me arrastou ao Sambódromo. Gostei muito. Apaixonei-me pela Vai Vai. A escola brilhou! Que festa linda. Meu abraço ao Chico Spinosa que deu um show de criatividade usando o tema da educação como forma de redenção. Parabéns a toda comunidade da Vai Vai. Voltando ao meu amigo mexicano. Como faz todos os anos, viajou em 12 de dezembro para assistir a grande procissão de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira da cidade do México. Ele, sua esposa e sua mãe têm uma devoção profunda. Foram os três. São fervorosos mesmo. Foi aí que se deu o choque. Ao tentar comprar uma estatueta para sua esposa, verificou que a mesma era feita na China. Ao querer presentear sua mãe com um quadro da Virgem viu um "made in China" estampado abaixo do pé da Nossa Senhora. Não se conformou. Correu todas as lojas em busca de uma Santa "made in México". Virou tudo. Não encontrou. Era China por todos os lados. Irritado, desistiu. Não comprou nada. Achou um desaforo. Ao me contar essa história ri no começo e choquei-me depois. O que vou sentir quando souber que todo o material religioso de Aparecida é feito na China? Ouvi dizer - não sei se é verdade - que, na base da licitação, algumas prefeituras compraram bandeiras do Brasil e do Estado de São Paulo, "made in China". Não gostei da notícia, mesmo que seja boato. Certos estão os americanos. Em 2007 vários estados aprovaram leis exigindo que as bandeiras americanas sejam feitas nos Estados Unidos. Minnesota saiu na frente. Outros vieram depois. ("Thirty one states introduce new laws". US Today, 02/01/08). Não gosto de reservas de mercado porque conspira contra a eficiência e sou favorável às licitações porque dá certa racionalidade. São as minhas crenças. Cada um tem as suas. Mas, esse negócio dos santos e bandeiras serem feitos na China... está me fazendo mudar de idéia. Você não acha que religião a patriotismo merecem trabalhos feitos com um amor especial? É... A China está virando os meus valores.