Publicado no O Estado de S. Paulo, 04/03/2008
O ano da China
As Olimpíadas farão de 2008 o ano da China. O país apresentará shows grandiosos no esporte, na infra-estrutura e nas tecnologias.
Ao ser escolhida em 2001 para hospedar as Olimpíadas (8 a 24 de agosto) e as Paraolimpíadas (6 a 17 de setembro), a China partiu imediatamente para a execução de um mega-programa composto de 20 grandes projetos no valor de US$ 12,2 bilhões, quase todos prontos. Dentre eles, destacam-se a construção de 31 estádios, 77 estradas e pontes, 16 quilômetros de vias exclusivas para ônibus que, junto com 4 novas linhas de trens subterrâneos, transportarão gratuitamente 19 milhões de passageiros por dia!
Uma via de 108 quilômetros, na região do Tibet, foi construída especialmente para atender a uma das paradas da tocha olímpica que, vindo da Grécia, ficará alguns dias no pico do Monte Everest.
Em todas as obras, a proteção do meio ambiente foi rigorosamente respeitada. Fábricas poluentes foram transferidas de Beijing para áreas distantes. Dos 60 mil táxis e 19 mil ônibus da capital, 75% foram recolhidos e os substitutos por novos, movidos a gás natural comprimido de baixa poluição. Há uma grande frota de ônibus elétricos com emissão zero. Para apoiar os atletas e organizadores, circularão 3.600 "vans" e 2.260 automóveis - todos de baixa poluição.
A cidade que era deserta em 2000, já conta com 51% da sua área recoberta com o verde das árvores, arbustos e grama. A água, que sempre foi um grave problema, ganhou novas fontes de abastecimento. Os milhares de toaletes instalados estão equipados com descarga econômica, sendo que os dejetos são tratados e utilizados imediatamente para irrigar a vegetação. O mesmo acontecerá com a maioria dos 637 hotéis da cidade e com os alojamentos dos 16.800 atletas que habitarão a Vila Olímpica. As praças, ruas e avenidas estão sendo limpas duas vezes por dia com equipamentos moderníssimos que reutilizam a [pouca] água que usam.
Em matéria de energia, Beijing reduziu consideravelmente o uso do carvão e multiplicou a capacidade das usinas termoelétricas e dos equipamentos solares e heólicos. Para evitar a poluição sonora, os prédios barulhentos têm restrição de funcionamento.
Uma parte das competições será realizada fora de Beijing - em Hong Kong, Qingdao, Tianjin, Changai, Shenyang e Qinhuangdao - que serão beneficiadas com obras do mesmo tipo.
As escolas de toda a China estão difundindo práticas conservacionistas. O país aproveitou as Olimpíadas para criar embrionariamente uma moderna consciência entre os seus 400 milhões de estudantes.
A ONU acaba de publicar um relatório sobre o que já foi feito e o que falta fazer (Beijing 2008 Olympic Games: An Environment Review, New York: United Nations, 2007). De um modo geral, o Comitê Olímpico Internacional está satisfeito. Resta apenas uma preocupação com a qualidade do ar. Houve avanços, sem dúvida. No ano 2000, a cidade teve apenas 177 dias de qualidade aceitável (segundo critérios da OMS - Organização Mundial da Saúde). Em 2006, foram 241 dias e em 2007, 246. Mas, isso ainda é insuficiente porque, mais sensíveis do que os aparelhos de medição dos técnicos, são os pulmões dos atletas. Com um ar inadequado, eles não rendem o que podem.
O certame pretende distribuir 302 medalhas de ouro. E a China quer ser o país de maior premiação para marcar o mundo com uma nova imagem. O país pretende ainda se livrar em definitivo da pecha de maior poluidor do mundo.
A revolução para receber as Olimpíadas é o marco de uma nova arrancada do crescimento chinês. As obras estão gerando uma imensa quantidade de empregos de melhor qualidade, com proteções previdenciárias e respeito aos direitos humanos - o que é raro naquele país.
Também aí o pais quer mostrar que está mudando. Tudo indica que, além das medalhas de ouro a serem obtidas, a China pretende sair das Olimpíadas ainda mais forte, mostrando um povo operoso e no caminho dos valores modernos. Se tudo isso é parte de uma grande jogada de propaganda política, só o tempo dirá.
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