Publicado no Jornal da Tarde, 17/10/2001
Drogas no trabalho
Em reportagem recente, a Revista Veja divulgou que 315 empresas brasileiras já realizaram testes clínicos para identificar a presença de drogas no sangue de seus funcionários ("Droga no trabalho", Veja, 04/07/2001). Por essa amostragem, o Brasil apresenta apenas 2% de usuários na sua força de trabalho.
O percentual deve estar certo, mas a amostra é questionável. As empresas que fizeram tais testes devem ser as mais conscientes sobre o problema e as que já possuem programas de recuperação dos dependentes. A reportagem cita vários casos de sucesso. A Embratel, por exemplo tem conseguido recuperar 82% dos dependentes. A Petrobrás Distribuidora e a Johnson & Johnson estão no mesmo patamar.
Nos arquivos de um dos laboratórios mais conceituados de São Paulo, e que realiza cerca de 1.000 testes por ano, o percentual de profissionais que usam drogas sobe para 5%. Trata-se de um número bastante expressivo que julgo estar mais próximo da realidade, o que significa dizer que o problema é sério.
Nem todas as empresas possuem uma atitude positiva em relação ao problema das drogas. A grande maioria se limita a dar uma chance ao empregado, dispensando-o se continuar dependente, e ignorando que os investimentos na recuperação de seres humanos talentosos, além do largo alcance social, é um bom negócio para a própria empresa. Recuperar custa menos do que recrutar e adaptar um novo profissional.
Se esse é um problema que veio para ficar, convém que as empresas se prepararem para ajudar a mitigá-lo. Mesmo quando as drogas são usadas fora da jornada de trabalho, elas afetam a produtividade e o ambiente de trabalho.
As pesquisas de âmbito mundial mostram uma pequena queda na proporção de recém adeptos das drogas, mas uma triste estabilidade entre os já dependentes. Tais estudos revelam ainda um aumento dos usuários de drogas mais fortes como é o caso da cocaína, heroína, crack e ectasy. Mais grave ainda é saber que o consumo per capita desses usuários sobe a cada dia. Nos Estados Unidos, 22% dos dependentes de cocaína e heroína respondem por 70% do consumo ("A survey of ilegal drugs", The Economist, 28/07/2001).
É claro que os empresários têm problemas de sobra para tocar o seu negócio. Mas nem por isso podem se furtar a assumir uma atitude pró-ativa no trato das drogas. Essa conduta faz parte dos novos tempos. A sociedade moderna demanda que as empresas respeitem cada vez mais a natureza, evitem acidentes pessoais e controlem os focos de doenças profissionais e sociais.
A droga é uma doença social. Nos dias de hoje, a negligência em relação a esse tema causa grandes prejuízos à imagem das empresas, além de determinar fortes perdas no seu capital humano que, como se sabe, é o patrimônio mais precioso da atualidade.
Nos casos mais graves, a reabilitação é onerosa, é verdade, pois implica em afastamentos prolongados para tratamento em instituições especializadas. Mas, a maioria dos casos tem alcançado sucesso com técnicas mais simples, realizadas dentro da própria empresa, como é o caso dos "grupos de apoio", "dependentes anônimos" e outras formas. Nesses grupos, a experiência de psicólogos é associada ao testemunho de ex-dependentes, formando uma corrente de forças que ajuda as pessoas a entender e superar suas angústias, incertezas e ansiedades - as causas mais fundas da adesão à droga.
Empresas que prezam os integrantes de seus quadros sabem muito bem que ajudá-los a superar um problema é mais útil do que despedi-los. Convém a elas entrar em contato com quem já teve sucesso nesse campo para, em seguida, adotar suas próprias práticas e servir de efeito demonstração para outras empresas. O Brasil precisa que a adesão a essa bola de neve cresça mais depressa do que a adesão às drogas.
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