Artigos 

Publicado no Jornal da Tarde, 31/10/2001

Terrorismo e medo no trabalho

Diferentemente das guerras tradicionais, o terrorismo colocou o perigo muito perto de todos nós. Com essa onda de bactérias transportadas por cartas e as ameaças de ataques químicos e até nucleares - sem falar no risco dos aviões e caminhões bombas, os seres humanos estão sendo assolados por um surto de medo e ansiedade que afeta suas vidas e seu trabalho.

Pelo que se noticia, a ameaça vão continuar. O objetivo dos terroristas é exatamente espalhar o medo e ansiedade. Isso altera o funcionamento da economia e, de certa forma, dá mais resultado do que matar em massa.

O medo é um sentimento de insegurança decorrente da observação de um objeto ou evento específico. A ansiedade é um estado de desconforto no qual a pessoa se sente dividida por forças que entram em conflito. O medo é mais particular; a ansiedade é mais geral.

Um medo exagerado tende a levar as pessoas a distorcerem o que vêem e sentem, fazendo crescer a ansiedade. Qualquer movimento de quem ameaça, potencializa o medo. Os boatos disparam a imaginação, agravam a situação e geram apreensão e, muitas vezes, pânico.

É claro que as pessoas que entram nesse estado não produzem adequadamente. A motivação cai. A produtividade é afetada. As viagens de serviço são evitadas. Muitas querem ficar em casa. O absenteísmo se eleva.

O medo e a ansiedade não podem dominar o ambiente de trabalho. O que fazer? Não existe receita mágica. Mas convém saber que as pessoas tomadas por medo e ansiedade sentem necessidade de falar e pôr para fora os seus sentimentos.

Para os chefes e supervisores é aconselhável reunir os funcionários em pequenos grupos e conversar sobre o assunto. Entretanto, não adianta só pedir paciência e compreensão. É preciso prover informação de boa qualidade. O grupo precisa entender a dimensão certa do problema e os riscos reais, afastando-o das fantasias e dos boatos.

Para tanto, é preciso que os chefes e supervisores se informem adequadamente. Aliás, a própria empresa pode providenciar elementos colhidos na imprensa, Internet ou literatura especializada que explicam o que são as armas biológicas, químicas e nucleares das quais mais se fala, examinando as conseqüências de eventuais ocorrências.

É bom lembrar que os homens, de modo geral, são mais fechados e não gostam de falar sobre seus sentimentos. Cabe aos chefes e supervisores provocá-los a falar. Uma das maneiras é pedir que contem como se sentem suas esposas. Ao relatar o estado delas, os homens acabam revelando as suas próprias apreensões.

Não é preciso bancar o terapeuta mas é útil ser um bom ouvinte e fazer perguntas amigas e de tom humanitário. Para os que demonstram não agüentar a tensão, há que se considerar medidas flexíveis tais como, algumas folgas, antecipação de férias, trabalho em casa e outros expedientes. Em suma, em momentos de incerteza, o apoio da empresa, dos chefes e supervisores é crucial para acalmar os ânimos dos empregados - desde que baseado em informações sólidas e apresentadas com realismo.

É verdade que empresários e executivos têm muita coisa para se preocupar pois, o dia-a-dia já está bastante difícil com os problemas gerados pela recessão mundial, a crise argentina, a disparada do câmbio e a falta de energia elétrica e outros. Mas não há como evitar estudar e explicar os riscos reais das ações terroristas para os seus empregados. Afinal, eles são o capital mais precioso das empresas.