Publicado no Jornal da Tarde, 25/07/2001
Olimpíadas na China
Não faltaram protestos contra a decisão do Comitê Olímpico Internacional ao apontar a China como sede das Olimpíadas de 2008. Afinal, só neste ano, o governo chinês fuzilou 1.800 pessoas; o trabalho forçado e infantil continuam praticados; e os direitos humanos pouco respeitados.
Os defensores daquela decisão dizem que os sete anos futuros serão de mudanças, e que a entrada da China na OMC, as reformas que se esboçam no Partido Comunista e as próprias Olimpíadas ajudarão a precipitar a democratização do País.
Estive na China no ano passado. Perguntei-me o tempo todo: Até que ponto a abertura econômica pode conviver com a "fechadura" política? Usando os valores ocidentais, minha resposta foi: muito pouco tempo. Utilizando os padrões chineses, a resposta foi outra: muito tempo.
A história da China explica muita coisa. A tradição de obediência às hierarquias e o hábito de viver dentro de limites determinados (e aceitos) pelas autoridades, fazem a gente vislumbrar uma abertura política lenta - ao lado de avanços econômicos fenomenais.
Os dados são impressionantes. O país tem crescido acima de 7% nos últimos dez anos. Em 2001, o País repetirá a façanha. A indústria deverá crescer perto de 20%. Enorme estímulo vem dos capitais privados, que hoje respondem por 75% da produção industrial.
Tudo isso acontece quando a maioria dos países em desenvolvimento da Ásia amarga fortes recessões. O Japão não consegue voltar a crescer. Países ricos, como Estados Unidos e União Européia passam por maus momentos. Na América Latina, com exceção do México, o quadro é desolador.
Contrariando todas essas tendências, a China cresce aceleradamente. Suas exportações, que por ora se concentram em produtos de tecnologia baixa e média, deverão ser alavancadas ao longo dos próximos dez anos, fazendo o País competir com vantagem em produtos mais sofisticados com a Coréia, Cingapura, Japão e muitos países da Europa.
Tudo indica que as Olimpíadas de 2008 serão realizadas em clima de grande euforia econômica. Isso é de grande interesse para os patrocinadores e para os que desejam fazer negócios com a China. O Brasil tem aí grandes oportunidades para ampliar suas exportações, especialmente de alimentos e produtos manufaturados. O povo chinês estará mais rico. O consumo que hoje cresce na base de 9% ao ano, deverá aumentar ainda mais.
Isso não significa que a China está isenta de riscos. O seu sistema bancário continua frágil. A falta de água afeta a fertilidade do solo e a produção de alimentos. O descontentamento com a corrupção mina a tradicional "tranqüilidade" chinesa. O aumento da mobilidade espacial da população provoca protestos menos controláveis pelas autoridades. As contradições dentro do Partido Comunista são preocupantes na medida em que os chamados neo-esquerdistas (ultra-nacionalistas) querem ver a China fora da OMC e do relacionamento comercial com os Estados Unidos, Europa e Japão - tudo o que os burocratas mais jovens desejam para ampliar as oportunidades de negócios e a renda do País.
No campo político, é pouco provável que a China venha a passar por uma mudança abrupta como foi a queda do Muro de Berlim. Mas, dentro do cadenciado ritmo chinês, tudo indica que as liberdades individuais e sociais serão paulatinamente ampliadas até o final da década.
O vigor econômico, porém, será mais forte do que a modernização política. Se não ocorrer nenhum desastre sério, as Olimpíadas de 2008 deverão se realizar em uma cidade (Beijing) que terá uma infra-estrutura de Primeiro Mundo, incluindo-se aí uma bela hotelaria, transporte confortável e comunicações instantâneas. Felizes os que puderem assistir de perto o show dos atletas em um País que dá um show de crescimento.
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