Publicado no Jornal da Tarde, 12/07/00
Bom humor no trabalho
José Pastore
Ganhei o presente do Antonio Ermírio de Moraes Filho - um dos timoneiros da nova geração que toca o Grupo Votorantim e que fatura, anualmente, quase US$ 4 bilhões.
Ele me deu o livro dizendo: É nisso que eu acredito – comentário verdadeiramente alucinante para aguçar a minha curiosidade porque a obra, afinal, focaliza o sucesso de uma empresa do ramo de serviços, que nada tem a ver com o complexo industrial da Votorantim.
Devorei o livro num fim de semana – 450 páginas. Fui de ponta a ponta. Não consegui parar. Nuts!, escrito por Kevin e Jackie Freiberg, (Editora Manole, 2000) é um poderoso feixe de idéias que converge fortemente para a valorização do ser humano. Conta a história de uma empresa de aviação (Southwest Airlines) que, contrariando as demais, lucra e cresce sem parar, desde a sua fundação (1967).
A chave do sucesso, está no trato dispensado aos empregados. Numa época em que as demais companhias aéreas enxugaram seus quadros, a Southwest nunca despediu um só funcionário. A empresa parte do princípio de que, com funcionários satisfeitos, os passageiros são felizes. Afinal, são os funcionários que garantem a boa manutenção das aeronaves, pontualidade de horários, carinho com as bagagens, cortesia a bordo e bom humor durante a viagem.
Para chegar a tais condutas, o recrutamento e o treinamento são importantes, sem dúvida. Mas são fundamentais, também, o cultivo e a prática de valores sociais recomendados em Nuts!: "valorize seus funcionários"; "promova o espírito de camaradagem"; "cultive neles a disciplina, evitando que as normas superem o bom senso"; "estimule o bom humor"; "contrate atitudes, e treine habilidades".
No novo mundo do trabalho, as atitudes passaram a ser cruciais. De nada serve um profissional competente que se mantém arrogante e briguento o tempo todo. Os funcionários são seres humanos que vão interagir com outros seres humanos – pessoas de verdade! - que têm emoções, desejos, e vontade de ser bem tratados.
Por isso, aconselham os autores, o senso de humor é um ingrediente crítico nos dias atuais, sugerindo, em seguida, alguns testes (bastante simples) para identificar a sua presença. Um deles consiste em pedir ao candidato, na hora do recrutamento, que conte um episódio mostrando como usou o senso de humor para resolver uma situação difícil.
Só aí já dá para saber quem vai dar certo e quem não vai. No caso da Southwest, até mesmo os pilotos têm de possuir senso de humor. Essa exigência é geral e crescente.
A confiança mútua é outro ingrediente essencial. Num mundo em que empregados e empregadores têm de estar juntos para enfrentar os concorrentes na economia globalizada, a guerra se torna perdida quando eles se envolvem em confrontações. Mas, a confiança não nasce com as pessoas. Ela precisa ser cultivada, não apenas na negociação anual, por ocasião da data-base, mas durante os 365 dias do ano.
Em suma, Nuts! ensina o que, apesar de óbvio, é esquecido por muita gente - que o sucesso das empresas modernas depende do sucesso de tratar bem os seus funcionários. Pouco adianta estar na ponta da tecnologia quando se está na rabeira do relacionamento humano.
É animador ver empregadores brasileiros familiarizando-se e praticando essas idéias. No caso em tela, é bem provável que esteja aí a explicação do "mistério" da Votorantim (eleita a empresa do ano pela Revista Exame, Edição 717) ter prosperado tanto numa época em que muitas empresas brasileiras afundaram ou foram abocanhadas pelo capital estrangeiro. Gostei da leitura. Recomendo-a a todos os que desejam e precisam progredir com base no trabalho. Obrigado pelo presente, caro Antonio. |