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Publicado no Jornal da Tarde, 06/12/2006.

Quarteto amoroso

O que você acha da idéia de um casal admitir pacificamente mais um personagem na sua cama todas as noites?

Pois é isso que começa a acontecer na vida de muitos casais. Na cama dos casais, sem a menor cerimônia, entrou o "notebook". Os motivos são os mais variados. Muitos maridos argumentam que a cama é um lugar confortável para finalizar um trabalho urgente. Outros dizem que só conseguem reconciliar o sono se colocarem no notebook, imediatamente, uma nova idéia que ocorre durante o sono.

As mulheres começam a se queixar da presença do estranho personagem. Há porém, o inverso: é a mulher que leva o notebook para a cama sob a alegação de precisar terminar um trabalho ou de comunicar-se com parentes e amigos.

São novos hábitos. Será que isso vai pegar? Quando, há 20 anos atrás, os casais levaram a televisão para o quarto, foi um escândalo. Hoje, muitos não dormem sem ver o Jô Soares ou o noticiário da meia noite. Há ainda os que usam a televisão no lugar do Lexotan, como hipnótico.

Mas os casos mais esdrúxulos são quando os dois parceiros levam o computador para a cama, como relata Katie Hafner (!Laptop slides into bed in love triangle", The New York Times, 24/08/2006). No início, usam o artefato para trabalhar ou se comunicar com outras pessoas. Mas, com o tempo, passam a "conversar" entre si, via e-mail, e a três milímetros de distância. O que era um triângulo amoroso se transformou num quarteto enfadonho. E assim a vida vai, com mais e mais tecnologia, e menos e menos contato humano.