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Publicado no Jornal da Tarde, 04/10/2006.

Encomende seu rim

Se você tiver a infelicidade de precisar de um transplante de órgão, não se preocupe. Vá à China. Chegando lá, ligue-se à Internet e entre em um dos vários "sites" que oferecem órgãos do corpo inteiro.

Não se preocupe em não entender o mandarim. O "site" faz ofertas em várias línguas. O sistema é cômodo. Você pode marcar o dia para fazer os exames de compatibilização sanguínea e o dia para receber o órgão certo. Sim, porque mais de 80% dos órgãos "recém-colhidos" provêm dos cadáveres de condenados à morte que foram executados.

Você deve estar achando isso um exagero. Nada disso. Li uma extensa reportagem sobre o assunto no prestigioso jornal Le Monde que enviou um competente repórter à cidade de Shenyang, no interior da China, para constatar os fatos narrados em recente matéria (Bruno Philip, "Au coeur du trafic d'organes en Chine", Le Monde, 25 de abril de 2006).

Os preços variam. São US$ 30 mil para uma córnea, US$ 62 mil para um rim, US$ 100 mil por um fígado e US$ 160 mil por um coração em bom estado. É caro. Mas há conforto. Você pode encomendar o órgão que precisa antes mesmo da execução do condenado, assegurando a compatabilidade. Se for um caso de urgência, o "site" diz: "Venha depressa caso queira um transplante rápido: nós temos um bom numero de doadores disponíveis nesta semana".

Horripilante? É um novo business que vai de vento em popa em um regime que, no Brasil é defendido pelos cultivadores dos direitos humanos. Dá para entender?