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Publicado no Jornal da Tarde, 05/04/2006.

Esmola e desigualdade

Você consegue manter a frieza quando uma criança faminta pede uma esmola nos cruzamentos da cidade?

Tenho certeza que não. A pobreza machuca todos. Castiga os pobres e incomoda os mais abastados. Ninguém gosta de viver em uma sociedade injusta e desigual.

O Brasil é um dos campeões nesse terreno, perdendo apenas para a Guatemala e alguns países da África.

Os últimos dados coletados pelo IBGE mostram uma redução da desigualdade. Mas isso não deve ser motivo para o governo cantar vitória, como vem fazendo. A referida redução foi conseguida basicamente pela distribuição de dinheiro dos programas sociais a cerca de 40 milhões de brasileiros: Bolsa Família, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e outros.

Mas o que fazem os beneficiários?

Há um pouco de tudo. Cerca de 21% dos chefes das famílias estão desempregados. É uma cifra altíssima. Entre os ocupados, 41% trabalham por conta própria na informalidade. Entre os que são empregados, apenas 38% têm a mesma situação, pois trabalham sem registro em carteira.

Por isso, não há porque comemorar uma redução da desigualdade que se baseia no assistencialismo. É claro que esses 40 milhões de brasileiros precisam ser acudidos - e os programas sociais devem continuar. Entretanto, mais do que isso, eles necessitam de um melhor horizonte de vida, o que depende de bons empregos e boa preparação para o trabalho. Do contrário estarão condenados à marginalização eterna. Penso que essa não é a melhor maneira de se reduzir a desigualdade. Afinal, nada substitui o trabalho digno e sustentado.