Publicado no Jornal da Tarde, 03/05/00
As profissões do sorriso
José Pastore
Você já foi servido por um garçon que demonstrou odiar o que estava fazendo? Você já foi hóspede de um hotel em que a recepcionista recheou de má vontade a informação que lhe passou?
Pois bem, tenha paciência. Saiba que essas condutas estão com seus dias contados. E que profissionais desse tipo não vão ter o que fazer no novo mundo do trabalho dos serviços.
A concorrência aperta para todos, inclusive, para os provedores de serviços. Quem trabalha nesse setor tem de desenvolver habilidades peculiares.
Contrariamente à indústria, os profissionais dos serviços estão em contato íntimo com os usuários. O sucesso nas transações depende, em grande parte, da natureza da interação que se estabelece entre o provedor e o usuário.
Nessa interação entra uma boa dose de persuasão, simpatia, cortesia, atenção, empatia e outros ingredientes que levam os especialistas a afirmar que nos serviços tem muita importância o "trabalho emocional".
São inúmeras as profissões que demandam trabalho emocional. Dentre elas, pode-se citar a dos bancários; recepcionistas; secretárias; telefonistas; garçons; ascensoristas; cabeleireiros; empregadas domésticas; cobradores; entrevistadores; agentes de seguros; advogados e juizes; médicos; dentistas; fonoaudiólogos; assistentes sociais; psicólogos; bibliotecárias; enfermeiros; terapistas; religiosos; artistas; locutores e apresentadores; professores; administradores em geral; relações públicas.
Além da atenção requerida, o trabalho emocional exige a manutenção de um sorriso permanente. Costuma-se dizer que no comércio e serviços predominam profissões do sorriso. E não basta apresentar um sorriso postiço. É imperioso mostrar sinceridade.
Quanto maior é a concorrência, mais importante é o papel da cortesia e simpatia. As condutas artificiais perdem o efeito. Nas empresas aéreas dos dias atuais, por exemplo, onde a competição é crescente, as tripulações são treinadas no sentido de oferecer aos passageiros um sorriso sincero.
O mesmo ocorre nas clínicas, ambulatórios, hospitais, bancos, hotéis, restaurantes e várias outras áreas em que a interação humana é o elemento decisivo do sucesso.
Na seleção de um bom chefe de cozinha, atualmente, os hotéis valorizam muito o prazer de cozinhar e apresentar bem a comida. Eventuais desconhecimentos das receitas e das tecnologias podem ser supridos pelo treinamento interno. Mas a motivação para preparar um prato bem feito deve vir com o cozinheiro. Isso faz parte da sua formação básica.
O mesmo ocorre com os garçons, arrumadeiras e mensageiros do ramo hoteleiro. As falhas de compreensão das rotinas podem ser corrigidas em serviço. Mas o prazer em servir é um ingrediente que deve ter sido trabalhado muito cedo na sua formação. Não basta ter o estereotipado "sorriso de aeromoça". É preciso ter um prazer genuíno em servir.
O Brasil tem uma longa caminhada no treinamento da mão-de-obra do turismo. O número de escolas não é pequeno (ver quadro), mas a qualidade do treinamento ainda é muito precária.
Estado |
Escolas Comuns |
Sistema "S" |
Total |
São Paulo |
80 |
03 |
83 |
Bahia |
27 |
04 |
31 |
Rio de Janeiro |
23 |
03 |
26 |
S. Catarina |
12 |
03 |
15 |
Minas Gerais |
07 |
04 |
11 |
Amazonas |
08 |
02 |
10 |
Paraná |
08 |
01 |
09 |
Outros |
47 |
23 |
70 |
Total |
212 |
43 |
255 |
Poucas são as escolas que conseguem preparar os alunos nas habilidades requeridas pelo trabalho emocional e menos ainda as que têm sucesso no ensino de línguas, cortesia e dedicação. Há dezenas de estrangeiros interessados em investir no turismo do Brasil. A maioria desiste quando vê a baixa qualificação dos nossos profissionais.
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