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Publicado no Jornal da Tarde, 01/06/2004.

Insônia e trabalho

A insônia, desordem freqüente da área do sono, está se tornando um problema na área do trabalho. As noites mal dormidas são as principais responsáveis pela ocorrência de acidentes do trabalho, rebaixamento da produtividade, clima de irritação que pairam nas fábricas, escritórios e comércio assim como pela baixa qualidade de vida dos trabalhadores e indução de depressão, alcoolismo e obesidade - sem contar ainda os graves problemas que ocasiona para a segurança de outras pessoas como é o caso da insônia que afeta os motoristas, pilotos, médicos, dentistas, enfermeiros e outros profissionais que são demandados a trabalhar em estado de atenção máxima.

O problema é mundial. Mais da metade dos adultos relatam episódios de insônia durante duas ou três noites por semana. Cerca de 75% dos afetados por insônia, relacionam o problema com situações estressantes como é o caso da perda de um ente querido, a descoberta de doença grave, a instalação de conflitos emocionais e o stress do trabalho.

Os primeiros fatores tendem a ser passageiros enquanto que o último tende a ser permanente (e crescente). O medo do desemprego, a sobrecarga de trabalho, a inveja e o ciúme, as desavenças entre colegas, a baixa remuneração, as demandas crescentes, o trabalho levado para casa e tantas outras ocorrências transformaram a vida dos trabalhadores modernos em uma usina de stress, que só é superada pelo desespero da pessoa que, tendo responsabilidades familiares, entra no desemprego e não consegue se re-empregar (Arlene Weintraub, "I can’t sleep", in BusinessWeek, 26/01/2004).

O problema da insônia vem sendo bastante estudado e tratado. Nos Estados Unidos, a insônia rende cerca de US$ 2 bilhões anuais para os laboratórios que fabricam drogas indutoras do sono. Quando se leva em conta os custos diretos e indiretos do tratamento da insônia e os prejuízos que ela causa no mundo do trabalho, a cifra chega a colossal soma de US$ 92 bilhões anuais (Gideon Yaniv, "Insomnia, biological clock, and bedtime decision: na economic perspective", in Health Economics, Vol. 13, 1-8, 2004).

Mas você que chegou até aqui neste artigo e sofre de insônia – como eu mesmo sou acometido de vez em quando – quer saber o que pode ser feito para evitá-la.

Andei lendo um pouco a respeito. Como sempre acontece, as teorias divergem. Uma delas recomenda que as pessoas que sofrem de insônia devem ir para cama só quando estão realmente com sono porque se forem antes ficarão muito tempo acordadas e convivendo de forma angustiante com os problemas que as aflige, retardando, assim, o sono reparador.

Uma outra teoria vai na direção oposta, ou seja, recomenda que as pessoas devam ir para cama mesmo sem sono, pois estando bem acomodadas ficarão mais tempo deitadas, tendo mais chance de dormir.

Esta última conduta tende a ser a preferida pelos que sofrem de insônia. Assim, enquanto a primeira visa minimizar a insônia, a segunda visa maximizar o tempo de descanso.

Não sendo especialista no assunto, só posso sair com aquelas eloqüentes platitudes que nos ocorrem no meio de nossa ignorância, ou seja, como cada um é de um jeito, o melhor e testar qual das duas teorias funcionam melhor. Eu prefiro a primeira conduta. Isso, porém, não dispensa uma visita a um médico competente em busca da necessária ajuda para dormir e trabalhar bem.