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Publicado no Jornal da Tarde, 22/02/2001

Robô tem alma?

Em junho de 1999 relatei no Jornal da Tarde o lançamento de um cão-robô que a Sony passou a vender por US$ 2 mil. Os compradores fizeram fila para comprar o "Aibo" (significa companheiro, em japonês), que deitava, levantava, abanava o rabo e coçava as costas do seu dono.

No ano 2000, os engenheiros da Tiger Eletronics, nos Estados Unidos, construíram um robô mais inteligente e mais barato - o "Cybie", um cão que anda, sobe e desce escadas, evita as paredes, não cai da mesa, distingue o claro do escuro e procura ajuda quando sua bateria está fraca.

O novo cão-robô devia ter sido lançado no final de 2000. Mas os seus criadores pediram mais tempo para aperfeiçoá-lo. Desejam aproximar o Cybie de um animal de estimação - aqueles que são adorados pelas crianças. Querem implantar uma pitada de entusiasmo no seu comportamento. Por isso, fizeram-no caminhar com certa "ginga", meio desengonçado, aceitando ordens de voz humana, em três línguas. Ademais, melhoraram a sua memória, preparando o cão para obedecer ordens do presente e do passado.

Mas, o Cybie continuou longe de um animal de verdade. Faltam-lhe as emoções. Os pesquisadores investiram mais tempo e o cão se tornou temperamental. À uma voz suave, ele responde com gestos carinhosos. Aos gritos, ele reage com agressão.

O Cybie está quase pronto. Será lançado no Natal de 2001, ao preço de US$ 200. Até lá, fará ainda alguns cursos de boas maneiras...

Foram milhões de dólares investidos para se criar um robô com alma...

Para muitos, foi dinheiro jogado fora pois, o Cybie não passa de um brinquedo. Mas para quem acompanha o mundo do trabalho, sabe que a importância dos robôs é crescente. Há 20 anos, eles entraram para fazer trabalhos perigosos e insalubres (robôs-pintores, soldadores, consertadores de auto-fornos, etc.). Hoje, as "criaturas digitais" fazem serviços domésticos, cuidam de doentes, assistem portadores de deficiência, ensinam crianças, etc.

O mundo nunca investiu tanto em robotização como nos últimos anos. E os resultados são promissores. Os robôs fazem o que os seres humanos não conseguem ou não gostam de fazer. A Honda Motor Company desenvolveu um robô que faz sozinho a limpeza das janelas de enormes arranha-céus e conserta fios elétricos de alta tensão em lugares inóspitos. Inúmeros robôs exploram o sistema solar em seus mínimos detalhes, trazendo conhecimentos preciosos para a vida dos seres humanos.

Você deve estar pensando nos empregos que os robôs destróem. Não se preocupe. As estatísticas mostram que a entrada de robôs cria uma imensidão de novas oportunidades de trabalho. Em primeiro lugar, estão as atividades ligadas à própria concepção e fabricação dos robôs e à sua manutenção. Em segundo lugar, estão os trabalhos que decorrem dos ganhos de produtividade proporcionados pelos robôs.

O Brasil não foge a essa regra. Os robôs de segunda geração (mais sofisticados) têm contribuído para a produtividade e ampliação dos investimentos e do emprego. Tome um só exemplo. Veja o que aconteceu com os laboratórios de análises clínicas que incorporaram robôs ao lado de seres humanos. Todos eles ganharam eficiência e ampliaram os serviços e o emprego.

Por isso, não se assuste com a entrada dos robôs. Em especial desses que prometem trabalhar com graça e boa conduta... Será mais um passo na fantástica revolução que ocorre no mundo do trabalho. Por isso, em lugar de gritar "parem o mundo porque eu quero descer", procure estudar o tempo todo e se preparar para conviver "numa boa" com robôs companheiros e bem educados.