Publicado no Jornal da Tarde, 04/10/00
Vaidade e trabalho
Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?
Você acha que os brasileiros são vaidosos? Os pesquisadores medem a vaidade pelo montante de tempo que as pessoas gastam pensando na sua aparência.
Uma pesquisa de opinião pública realizada em 30 países, identificou que os venezuelanos são as pessoas mais vaidosas do mundo: 65% das mulheres e 47% dos homens pensam na sua aparência o tempo todo (Roper Starch Wordlwide, 2000). Isso está bem acima da média mundial que é de 23% para as mulheres e 16% para os homens.
Nos 15 países mais vaidosos, as médias de vaidade entre homens e mulheres são expressas no quadro abaixo.
Países |
Vaidade (%) |
1. Venezuela |
58 |
2. México |
42 |
3. Rússia |
40 |
4. Turquia |
36 |
5. África do Sul |
35 |
6. Filipinas |
32 |
7. Brasil |
30 |
8. Arábia Saudita |
28 |
9. Estados Unidos |
22 |
10.Indonésia |
21 |
11.Canadá |
19 |
12.Argentina |
18 |
13.Japão |
17 |
14.Coréia do Sul |
16 |
15.China |
15 |
Fonte: "Vanity", The Economist, 02/09/2000
O Brasil ocupa um honroso 7º lugar na lista. Povos que têm a imagem de vaidosos, surpreendentemente, ficaram abaixo do Brasil como é o caso dos americanos (22%) e argentinos (18%). Outros nem aparecem entre os primeiros 15 colocados como, por exemplo, os italianos (12%) e os franceses (11%). O povo menos vaidoso do mundo é o alemão (5%).
Para quê estudar a vaidade? Para as empresas de perfumes e cosméticos é uma atividade fundamental. Para quem se preocupa com investimentos e empregos, é igualmente valioso. Veja o caso do Brasil.
Apesar dos surtos recessivos da década de 90, o Brasil registrou um aumento no consumo daqueles produtos da ordem de 73%. Os investimentos industriais no setor de perfumes e cosméticos, saltaram de US$ 1,75 bilhão em 1990 para mais de US$ 4 bilhões no ano 2000, criando muitos empregos, na indústria, comércio e vendas de porta em porta.
A vaidade movimenta muitas profissões do embelezamento (cabeleireiros, manicuras, esteticistas, massagistas, etc.). No Brasil, o número desses profissionais dobrou entre 1985-95! Tais profissões cresceram quase 7% ao ano (Ruth Helena Dweck, "A Beleza como Variável Econômica", Rio de Janeiro: IPEA, 1999).
Essa expansão tende a continuar. Um dos fatores que mais contribui para o aumento do consumo, produção e emprego nesse setor é a crescente participação da mulher no mercado de trabalho. Além disso, há a forte pressão da televisão, cinema e propaganda que enaltecem a beleza da mulher.
Mas, o impulso maior veio da adesão dos homens à arte de embelezar-se. No meu tempo de menino, os garotos que usavam cremes, perfumes e pó de arroz eram vistos com reserva. Hoje esse tabu caiu, e os homens passaram a ser grandes consumidores de produtos e serviços de beleza.
É interessante notar que, no Brasil, o acesso aos produtos e serviços da beleza democratizou-se bastante, estando ao alcance de todos os estratos sociais. E os gastos são de monta. Na cidade de São Paulo, 45% das mulheres gastam 20% de seus salários nesses itens ("Beleza a qualquer Custo", Folha de S. Paulo, 22/09/96).
Em suma, a feminização do mercado de trabalho e a valorização da vaidade masculina, tornaram a vaidade em item de grande importância econômica e social no Brasil. Você alguma vez pensou que ser vaidoso gera emprego? Pois gera – e muito.
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