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Publicado no Jornal da Tarde, 17/04/2002.

O envelhecimento do mundo

Por que vou me preocupar com o futuro se ele nunca fez nada de bom para mim?

Para a maioria dos jovens, o futuro é um tempo que vai demorar para chegar. Não há porque se preocupar agora.

A Conferência sobre o Envelhecimento da População Mundial, promovida pela ONU de 8 a 12 de abril em Madrid, mostrou que o quadro é outro. Daqui há menos de 50 anos, o mundo terá 2 bilhões de idosos (com mais de 60 anos) - hoje são 630 milhões. É um crescimento fantástico. O grave é que 80% desses idosos estarão nas nações menos desenvolvidas.

Há cinqüenta anos, a proporção de idosos na humanidade era de 8%; hoje, é de 10%; e em 2050, será 21%! Naquele ano, os idosos serão mais numerosos do que os jovens (pessoas com menos de 15 anos).

Isso terá enormes repercussões em toda sociedade. Os seres humanos terão de encontrar uma maneira de gerar a mesma receita com menos gente trabalhando e mais pessoas dependendo do apoio da seguridade social.

Também no Brasil o número de idosos cresce rapidamente. A expectativa de vida passou de 66 anos, em 1991, para quase 69 anos, em 2000. É um aumento substancial.

Entre os homens, a vida média é de 65 anos; entre as mulheres, 73. Uma grande parte dos homens que completam 65 anos, chegará aos 78 anos. As mulheres que têm 73 anos têm grande probabilidade de chegarem aos 89 anos.

O crescimento da população idosa é um enorme desafio para o Brasil. Como o número dos que dependem dos jovens cresce velozmente, isso põe fortes pressões sobre os sistemas de aposentadoria, saúde e assistência social.

Muitos acreditam que os idosos não precisam de muita renda para viver. Isso é falso. Os bens e serviços que eles consomem custam mais caro do que é consumido pelos jovens. Estes compram bens de massa, que baixam de preço a cada dia, como é o caso do telefone celular, do CD, do rádio de pilha, do tênis, dos jogos eletrônicos, etc. Os idosos gastam muito com medicamentos, aparelhos ortopédicos, óculos, aparelho de audição, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas cujos preços e honorários são muito altos. No fundo, a inflação do idoso é maior do que a do jovem.

Por outro lado, a maioria dos idosos tem dificuldades para assumir a sua própria vida. As deficiências físicas, sensoriais e mentais aumentam com a idade. Entre eles, são freqüentes as cardiopatias, a cegueira, a paraplegia e os problemas mentais (alzaheimer).

Ademais, uma parcela expressiva dos idosos sofre de solidão. Com a saída da mulher para o trabalho fora de casa, faltam filhas e noras para cuidar dos idosos no domicílio.

As pesquisas revelam que os idosos que vivem sós, adoecem mais. Começa pelo fato de comerem mal. Não só por causa da pobreza mas, sobretudo, pelo isolamento e pela falta de graça que encontram em ficar sozinhos.

A Conferência da ONU defendeu a idéia de se implantar no mundo inteiro, ao longo dos próximos 20 anos, políticas públicas que possam garantir o envelhecimento com saúde até se chegar ao dia em que o envelhecimento deixe de ser sinônimo de doença.

Quando se analisa a evolução dos idosos, é imperioso destacar a situação especial das mulheres. Estas são mais atingidas pela solidão; têm menos educação; trabalham menos; e dispõem de pouca renda. No Brasil, dentre as mulheres idosas que não têm companheiro, cerca de 45% vivem sozinhas.

Por isso, a própria ONU reconheceu a necessidade de se trabalhar cuidadosamente o capítulo das mulheres nas políticas públicas que tratarão dos idosos do mundo. No Brasil isso é mais do que necessário. As mulheres que cuidam de toda a família não têm ninguém para cuidar de si na velhice.

O envelhecimento da população exige novas instituições de seguridade social. As atuais foram erguidas no pressuposto de que uma grande quantidade de jovens sustentaria uma pequena quantidade de velhos indefinidamente. O mundo mudou. Cada vez mais, uma pequena quantidade de jovens está sendo chamada a se responsabilizar por uma grande quantidade de velhos.

A reforma das atuais instituições de seguridade têm de ser realizadas já. Não será em 2050 que vamos ser capazes de gerar novos conceitos e novos financiamentos para apoiar os idosos. Aos jovens, lembro ser importante se preocupar com o futuro agora para que ele não lhe faça mal na hora que você vai precisar dele.