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Publicado no Jornal da Tarde, 09/08/00

Barbeiros eletrônicos

Uma das coisas que mais me invocam é porque eu, que tenho pouco cabelo (resistindo dizer careca), devo pagar ao barbeiro o mesmo que paga o meu amigo Garcia que tem uma cabeleira que mais parece um espanador. No meu caso, o corte leva dez minutos; no do Garcia, quase uma hora.

Mas isso vai mudar. Sei que o Gaspar, meu barbeiro, não vai gostar da mudança. A sua profissão está passando por uma profunda metamorfose. Aliás, são inúmeras as profissões que se modificam nos dias atuais.

O corte de cabelo individualizado, artesanal, feito a tesoura, está sendo substituído pelo corte padronizado, industrializado, na base de máquinas elétricas e que, aos poucos deixarão todos os seres humanos parecidos uns com os outros.

Em um estudo realizado por Ruth Elena Dweck, ("Corte de cabelo em ritmo industrial", Gazeta Mercantil, 17/05/2000) a autora antecipa que barbeiro é uma profissão em extinção. Os dados não deixam dúvida. No Brasil, no período de 1985-95, a participação dos barbeiros no setor de higiene pessoal, despencou de 12% para 7%. Se considerarmos os casos dos barbeiros autônomos, a queda foi maior. De 70% em 1985, passaram para apenas 20% nos dias atuais.

Dentro das redes de salões de barbeiro, em geral unisex, predominam os cortadores empregados, em geral, "celetistas". Mas eles fazem um serviço bem diferente do que fazia o velho barbeiro do meu tempo de menino. O corte rápido ("fast-cut") é realizado em menos de 5 minutos. A tesoura foi substituída pela máquina de tosa. O barbeador elétrico tomou lugar da navalha. E assim por diante. São as modernas técnicas de cortar cabelo.

Com base na nova parafernália, uma rede de barbearias consegue atender mais de mil clientes por mês. Em lugar de pagar R$ 20,00 ou R$ 30,00, eles pagam apenas R$ 3,00 por um corte realizado num piscar de olhos.

Esse é mais um exemplo de profissões que estão se transformando nos dias atuais. Nas gráficas, não há mais tipógrafos ou linotipistas. Nos jornais, cada jornalista escreve suas matérias diretamente num computador "plugado" na rotativa. Nos grandes restaurantes, os cozinheiros usam molhos industrializados, carne previamente cozida e fornos de micro-ondas que fazem em 2 minutos o que se levava dias para fazer. Os almoxarifes e estoquistas foram substituídos pelos computadores. As datilografas, pelas digitadoras. As telefonistas, pela voz digitalizada. O caixa de banco pelo caixa eletrônico.

A maioria das profissões passa por profundas mudanças. A entrada de novas tecnologias mudou os modos de trabalhar. O crescimento da competição fez crescer a importância da cortesia. E aumentou a necessidade de ser versátil.

Essas transformações representam um enorme desafio para a educação, em geral, e para a escolas profissionalizantes, em particular, que têm pela frente a necessidade de formar profissionais que estão em constante mutação.

O Brasil gasta bastante em formação de pessoal. Só o PLANFOR, coordenado pelo Ministério do Trabalho, investe cerca de R$ 4,5 bilhões por ano. Poucos países gastam essa enormidade. Resta saber se as escolas e os programas estão conseguindo acompanhar as meteóricas mudanças por que passam as profissões e o mercado do trabalho do Brasil. Não está na hora de se avaliar essa dimensão do problema?