Publicado no Jornal da Tarde, 31/05/00
Homossexuais no trabalho
Um dos traços mais evidentes do mundo do trabalho é a crescente vocalização dos direitos das minorias. Mulheres, negros, homossexuais e portadores de deficiência são os grupos que mais atuam em busca dos seus legítimos direitos.
O atendimento dos direitos das minorias, entretanto, está sujeito a fatores que vão além da qualidade das campanhas. Um deles diz respeito à lei da oferta e procura.
Vejam o que ocorre no mercado de trabalho dos Estados Unidos. Ali, o desemprego é baixíssimo (menos de 4%) e a disputa por mão-de-obra está na base do corpo a corpo. Nas grandes lojas, quem indica um candidato a vaga, ganha US$ 100 e se ele for aprovado no teste, ganha mais US$ 100.
Diante de tamanha escassez de mão-de-obra, não é surpresa verificar que, muitos grupos tradicionalmente discriminados, passam a ser procurados pelas empresas. Estas, finalmente, começam a entender que os preconceitos constituem barreiras criadas pela sociedade e nada tem a ver com a competência dos profissionais. É isso que tem levado muitas delas a procurar, com maior entusiasmo, os portadores de deficiência e os homossexuais. Para recrutar, as firmas estão se entrosando com movimentos de minorias em busca de talentos. O dos "gays" e lésbicas é um deles.
Várias empresas vêm adotando a prática de organizar jantares e outros eventos sociais para criar um clima amistoso com homossexuais (homens e mulheres). Oprocuram nas universidades os grupos de defesa de minorias. Tudo tem de ser feito com muito cuidado pois, a última coisa que os homossexuais desejam é uma nova forma de discriminação.
Essas táticas estão dando certo. Os recrutadores têm se surpreendido com a qualidade de mão-de-obra que estava sendo desperdiçada por força de barreiras culturais e sociais. Há muitas pessoas talentosas, bem treinadas e com muita garra para conquistar um emprego e subir na carreira.
As empresas estão descobrindo que a comunidade de homossexuais já é bastante vigorosa como consumidora de bens e usuária de serviços. Tome o caso do turismo. As pesquisas mostram que 86% dos "gays" e lésbicas americanos viajaram durante as férias de 1999 – contra a média de 64% de todo o País – sendo que, 45% foram para o exterior; a média nacional é de 9% - uma diferença expressivas. Por traz dessa diferença estão a educação, a renda e o fato da grande maioria dos homossexuais não ter filhos, podendo, assim, desfrutar de uma parcela substancial dos seus rendimentos para as atividades de turismo e lazer.
Para dar uma indicação da alta qualificação dessas pessoas, basta observar que 75% possuem uma renda familiar acima da média do País (US$ 40 mil por ano) e 23% ultrapassam a casa dos US$ 100 mil anuais (contra 14% do total). Cerca de 48% possuem diploma universitário e 41% passaram por cursos de pós graduação.
Não há a menor dúvida de que, naquele País, tais pessoas constituem uma nata em termos de qualificação profissional. Quase 60% exercem profissões liberais ou são altos executivos. Como a metade vive sozinha, elas tendem a ter uma grande disponibilidade para o trabalho, facilitando a prática de horas extras, quando necessário.
Tradicionalmente, a função básica dos movimentos organizados foi de pressionar as empresas para criar um ambiente de trabalho mais favorável para recrutar, treinar e empregar as minorias. Precisou chegar a uma situação de extrema escassez de mão-de-obra para os seus pleitos serem ouvidos e para as empresas valorizarem adequadamente as suas habilidades. Oxalá as novas atitudes sejam duradouras e se estendam às demais minorias. Afinal, nada justifica discriminar pessoas e, muito menos, desperdiçar talentos.
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