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Publicado no Jornal da Tarde, 04/01/2006.

Quanto vale um bebê?

No Brasil as mulheres continuam garantindo o futuro de nossa população. Em média cada mulher brasileira em idade fértil tem gerado 2,2 filhos. Isso está acima da taxa de reposição populacional que é de 2,1 filhos por mulher.

Com esse quadro demográfico podemos esperar que, nas próximas décadas, o Brasil contará com um número de jovens suficientemente grande para trabalhar e recolher impostos para manter os idosos. Entre nós, o problema é garantir as vagas para toda essa gente.

Bem diferente é a situação da União Européia e do Japão onde as mulheres não querem ter filhos apesar dos estímulos que os governos oferecem. Na França, as mães podem contar com cerca de US 1,200 por criança que gerarem. O mesmo se dá na Itália,m onde as províncias começam a competir. No povoado de Laviano, perto de Nápoles, o prefeito ousou a oferecer dez mil euros por cada bebê, pois a população atual de 1.600 habitantes corre risco de sumir do mapa.

Na Alemanha os casais estão sendo tentados com drásticas reduções de impostos em troca de um nenê. Além disso, o governo garante creches e outras instituições para cuidar das crianças enquanto os pais trabalham. No Japão, os estímulos econômicos são os mais variados, desde a oferta de dinheiro vivo no nascimento da criança até cruzeiros marítimos de vários dias para entusiasmar os casais a procriarem.

Pouca coisa tem funcionado nesse campo. Os países da Europa e o Japão assistem a uma rápida diminuição de suas populações. São nações que estão envelhecendo muito rapidamente e tendo de enfrentar o grave problema de muitos idosos sem poder trabalhar e poucos jovens trabalhando. As despesas com saúde, aposentadoria, pensões, assistência social e psicológica para os que têm mais de 60 anos estão arrasando as finanças públicas e sem perspectivas de mudança.

A própria China tem seus dramas nesse campo. Se o país levar avante a atual política de apenas um filho por casal, a China enfrentará o problema de falta de mão-de- obra dentro de 25 ou 30 anos. Em 2040, o poderoso gigante asiático terá mais pessoas de 60 anos do que os Estados Unidos. Hoje, as despesas com aposentadoria e pensões são irrisórias porque a maior parte da população não faz jus a esses benefícios. Mas, com o avanço da industrialização e urbanização, as demandas por proteção social crescerão - o que exigirá instituições eficazes e gente que trabalhe para financiar tais instituições.

É interessante notar que o desenvolvimento da medicina conseguiu esticar a vida dos antigos, mas pouco fez para garantir o nascimento de novos. Por mais que se estimulem os casais, a decisão de procriar parece ser de foro individual que, por rua vez, reflete as condições econômico sociais em que as pessoas vivem.

Os jovens de hoje valorizam muito a segurança. E esta mudou de sentido ao longo do tempo. No passado, uma prole farta dava condições de segurança na medida em que a família contava com muitos braços para trabalhar. Hoje em dia, uma prole farta impõe despesas pesadas para garantir a saúde e a educação que a sociedade do conhecimento exige. São fatores sociais que influenciaram os valores individuais. Ademais, os tempos modernos acentuaram o estilo individualista de viver que valoriza a liberdade das pessoas para usufruir em vida o que outrora era reservado para após a morte.

As nações desenvolvidas que, há quatro ou cindo décadas, tinham problemas com taxas de natalidade superiores a cinco filhos por mulher, jamais poderiam supor que chegaria um tempo em que teriam de comprar nenês de pessoas que não querem tê-los e muito menos vendê-los. É o desafio das modernas nações sem povos. Será isso possível? Penso que não. E, se a resistência continuar, os países desenvolvidos terão de mobilizar forças que sejam capazes de reduzir a hostilidade dos nativos em relação aos estrangeiros e promover grandes massas de migração. Será a "contribuição" dos povos menos desenvolvidos aos mais avançados.