Publicado em O Jornal da Tarde,30/08/1995
O casamento compensa?
Quais as vantagens de ficar casado em um mundo que se torna cada vez mais individualista e que facilita cada vez mais a vida de quem deseja viver só?
Pesquisas muito recentes revelam que homens e mulheres casados prolongam suas vidas. é isso mesmo: os solteiros, separados, divorciados e viúvos morrem mais cedo; os casados morrem mais tarde (Lee A. Lillard e Linda J. Waite, Marital Disruption and Mortality, 1995).
A explicação desse fenômeno é bastante complexa. São vários fatores que determinam essa diferença de longevidade entre casados e não-casados. O casamento parece proteger os parceiros contra inúmeros percalços da vida comum. As pessoas casadas, especialmente os homens, fumam e bebem menos e têm renda bem mais alta do que os não-casados. Isso tudo acaba tendo um efeito positivo na saúde dos cônjuges, retardando a morte. Entre as mulheres, o casamento melhora a sua situação econômica, facilita o acesso a melhores serviços de saúde, proporciona melhor habitação e gera menos insegurança e stress.
Os estudos nesse campo têm focalizado não só o que acontece com casados e não-casados mas também com os que fazem a transição de um status para outro. Por exemplo, as pessoas que estão casadas e perdem o parceiro (por separação, divórcio ou morte) vão ter probabilidades de morte bem diferentes se recasarem ou não. Segundo as referidas pesquisas, os que recasam têm vida mais longa. E isso é particularmente evidente entre os homens.
Por que o casamento oferece mais proteção ao homem do que à mulher? São vários fatores. Em primeiro lugar, homens não casados, especialmente separados ou divorciados, têm uma tendência maior para assumir comportamentos de risco e estilos de vida pouco saudáveis. Em segundo lugar, os homens que se separam, divorciam ou ficam viúvos - sem recasar - tendem a se isolar e, quando muito, a se relacionar apenas com amigos e colegas.
As mulheres que se separam, divorciam ou ficam viúvas, além de assumirem menos comportamentos de risco, tendem a se aproximar da família e tiram vantagem dos inúmeros benefícios da integração social. A roda de amizades das mulheres tende a ser maior do que a dos homens e, com isso, acaba tendo mais apoio para viver sozinha. Mas, mesmo nesse caso, elas morrem mais cedo do que as que se recasam.
Vê-se assim, que o casamento beneficia homens e mulheres. Nos dois casos, ele prolonga a vida. Mas os determinantes são diferentes. No caso dos homens, pesa muito a redução dos fatores de risco. No caso da mulher, pesam bastante os benefícios decorrentes de uma melhor situação econômica.
As pesquisas provam que o casamento adia a morte dos cônjuges. Mas é claro que isso se refere à média das pessoas e das uniões matrimoniais. Há casamentos e casamentos. Se você está metido num daqueles em que o relacionamento é infernal, é bem provável que seu risco à doença e à morte estão se elevando a cada dia. Nesse caso, a melhor coisa, para os dois lados, é cair fora da relação. Mas, lembre-se, sua vida só será prolongada se você entrar em uma outra relação - desde que dê certo.
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