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Publicado no Jornal da Tarde, 05/04/00

O divórcio dos Pitta

José Pastore

O Brasil assiste espantado o sofrimento de uma mulher que carrega consigo uma infinidade de mágoas de um casamento mal terminado. O drama da Sra. Nicéa Camargo só se destaca da maioria dos casos semelhantes por seu desdobramento político.

Muitos acham que, além das feridas sentimentais, a separação deve ter contrariado interesses econômicos.

É enorme a quantidade de pesquisas mostrando que a situação econômica das mulheres tende a se deteriorar rapidamente depois que se separam. Os homens separados, ao contrário, continuam ou melhoram de situação.

De um modo geral, as mulheres divorciadas trabalham mais do que as não divorciadas e, ainda assim, a sua renda disponível é a metade do que tinham antes de divorciar.

Esse tipo de constatação vigorou durante muitos anos. Pesquisas recentes, porém, estão provocando uma modificação nesse conhecimento. Elas partiram de uma outra pergunta, a saber: Qual seria a situação econômica da mulher divorciada se ela tivesse permanecido casada?

Ao acompanhar uma amostra de 13.008 mulheres em várias situações, três sociólogos chegaram à conclusão segundo a qual as mulheres que se divorciaram não dispunham do dobro da renda durante a sua vida como casadas (Pamela J. Smock, Wendy D. Manning e Sanjiv Gupta, "The Effect of Marriage and Divorce on Women´s Economic Well-Being, in American Sociological Review, Vol. 64, no. 6., Dezembro de 1999).

Uma coisa é comparar mulheres divorciadas com casadas em geral. Outra, é comparar divorciadas com elas mesmas antes do divórcio. Ao fazer essa segunda comparação, o estudo em tela constatou que as mulheres divorciadas – se não tivessem divorciado - não usufruiriam da mesma renda que desfrutam as mulheres casadas em geral, ou elas mesmas se tivessem continuado como casadas.

Esse resultado indica que o casamento não é apenas causa do bem estar econômico dos parceiros mas é também uma importante consequência. Casar e permanecer casado têm uma forte relação com um nível de vida mais alto.

O estudo mostra que o divórcio tende a ser mais frequente entre as mulheres que não desfrutam de grandes vantagens econômicas. A separação, quando ocorre, reflete a existência de inúmeros problemas para a mulher, inclusive, desvantagens econômicas. Ou seja, a separação formal é apenas o corolário e uma longa separação.

Explicando melhor, a mulher que se divorciou porque precisou se divorciar, não desfrutava da mesma situação da que não precisa se divorciar e permaneceu casada. Por isso, ela não teria uma situação econômica dramaticamente melhor do que tem como divorciada se tivesse continuado casada.

Os dados mostram que sua renda disponível seria um pouco mais alta, mas nunca o dobro – como ocorre quando se compara as mulheres que se divorciaram com as que permaneceram casadas. Em resumo, o benefícios econômicos são menores para o subgrupo de mulheres que se divorciaram.

Essa conclusão modifica os argumentos dos que usam as diferenças de renda entre divorciadas e casadas para enaltecer as vantagens do casamento e os prejuízos do divórcio. O que é preciso entender é que quem se divorcia tem uma situação diferente de quem não se divorcia. Para essas mulheres, continuar casadas não representa uma grande vantagem econômica além, é claro, de terem de carregar o enorme fardo do desgaste emocional que vem do desentendimento com o marido.