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Publicado no Jornal da Tarde, 24/07/2002.

O extermínio dos jovens

O Censo 2000 mostrou um grande alongamento da vida dos brasileiros na década de 90. Os homens vivem, em média 67 anos e as mulheres 73.

Essa diferença a menor para os homens é observada em todos os países. Os homens são mais sujeitos a doenças cardiovasculares que constituem a principal causa de morte na sociedade moderna.

Mas, no caso do Brasil, há uma outra causa que está encurtando a vida dos homens: a violência. Segundo as estimativas do IBGE a explosão da criminalidade e acidentes de trânsito entre os moços reduziu sua vida média dos homens em 5 anos. É isso mesmo: cinco anos!

Uma pesquisa realizada pelo UNESCO revelou que o Brasil ocupa o segundo lugar entre os países do mundo em uma vergonhosa escala de mortes violentas de jovens entre 15 e 24 anos, sendo ultrapassado apenas pela Colômbia (Jacabo Waiselfisz, Mapa da Violência III, UNESCO, 2002).

Nos últimos dez anos, o número de homicídios de jovens cresceu 77%. Para aquilatar como isso afeta a sobrevivência dos homens basta citar que o total de 17.700 homicídios de jovens representou 39% das mortes ocorridas na faixa de 15 a 24 anos no ano 2000.

Nessa faixa etária, os homicídios aumentaram 9% ao ano durante a década de 90. Os assassinatos de jovens subiu de 35 por 100 mil habitantes em 1991 - o que já era altíssimo - para 52 por 100 no ano 2000, o que é um descalabro.

Na cidade de São Paulo, os homicídios são a principal causa de mortes dos jovens (15 a 24 anos). Um novo índice criado pela professora Felícia Madeira (Índice de Vulnerabilidade Juvenil - IVJ) mostra que cerca de 340 mil adolescentes (entre 15 e 19 anos) vivem em situação de alto risco na capital paulista e que, a qualquer momento, podem entrar em cenas de violência (Ver IVJ, Fundação SEADE, 2002). Basta lembrar que 75% dos seqüestros são realizados por jovens entre 18 e 30 anos.

Isso é uma tristeza, pois as pessoas dessa faixa estão apenas começando a vida; a maioria acabou de sair da escola para começar a trabalhar e ali exercer a imaginação criativa que é própria da juventude. Diferentemente do que acontece com o idoso, a morte violenta do jovem devasta os pais que, em muitos casos, perdem o rumo da sua própria vida.

O extermínio da juventude vai muito além da frieza das estatísticas. É um problema de enorme impacto para o equilíbrio emocional da família brasileira que vive amedrontada, desnorteada e insegura.

O problema da criminalidade tem sido discutido à exaustão. Todos sabem que ela decorre de deterioração social e da incapacidade dos órgãos de controle. As duas dimensões são difíceis de serem atacadas em um país de dimensões continentais como o Brasil e em uma megalópolis como São Paulo.

Mas não há como escapar. Nestes próximos dez anos temos de tornar a vida dos jovens mais segura. A boa educação e o bom emprego são passos essenciais. Um melhor controle das drogas e dos ambientes criminogênicos é igualmente importante.

O Brasil não pode continuar nessa situação. A Intifada, considerada uma catástrofe em Israel, matou 1.400 pessoas em 17 meses enquanto que os homicídios e acidentes de trânsito no Brasil mataram quase 46 mil pessoas em apenas 12 meses.

A população tem o direito de exigir dos candidatos um plano concreto que explicite "o que" e "como" será feita a contenção da destruição dos jovens brasileiros. Ninguém espera um milagre. Nada acontecerá do dia para a noite. Mas nós eleitores queremos saber qual é o "plano plurianual" que será implantado no Brasil para se reduzir a violência de forma expressiva antes do final da década. Ser jovem precisa deixar de ser perigoso neste País.