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Publicado em O Jornal da Tarde,14/01/1999

Beleza e trabalho

Quando se fala de Luiza Brunet, Tereza Collor ou Cláudia Raia, ninguém duvida que estamos nos referindo a mulheres que carregam consigo uma inegável beleza.

Mas quando nos colocamos em volta de uma mesa para definir o conceito de beleza, a tertúlia vai longe e nunca se chega a uma conclusão. Logo surgem os argumentos do tipo: "beleza é o que a pessoa tem por dentro"; o que é belo para mim, pode não ser para você; a verdadeira beleza é a do caráter...

O que explica o fato de haver grande consenso sobre quem é bonito e grande dissenso sobre a definição de beleza? Suspeito que esse desencontro revela uma vontade inconsciente de todos quererem ser belos. Como ninguém quer ficar de fora, os conceitos vão sendo multiplicados de modo a incluir todos os interlocutores dentro da noção de beleza.

Apesar da reconhecida discordância, vários pesquisadores estudam a relação entre beleza e sucesso profissional.

O estudo comentado a seguir trata desse problema com uma enorme elegância teórica e robusta precisão metodológica (Jeff E. Biddle e Daniel S. Hamermesh, Beuaty, Productivity, and Discrimination, 1998).

Os dois pesquisadores colocaram em folhas de papel homogêneo, e individualmente, as fotografias das faces de 4.400 moças por ocasião de sua formatura nas faculdades de direito nos Estados Unidos.

O julgamento de sua beleza foi feito por quatro juizes (dois homens e duas mulheres) que, de forma independente, classificaram as moças em cinco níveis: (5) muito bonitas; (4) acima da média; (3) na média; (2) abaixo da média; (1) bem abaixo da média (feias).

As moças foram pesquisadas em sua carreira em dois momentos: 5 e 15 anos após a sua formatura. Antes de revelar os resultados profissionais, é interessante comentar alguns aspectos paralelos.

1. Em cada 100 moças analisadas, as advogadas que militam no setor privado classificaram-se como muito mais bonitas do que as do setor público.

2. Os recrutadores das advogadas (homens e mulheres) disseram que, em igualdade de condições, preferem trabalhar com moças bonitas.

Depois de controlar por um grande conjunto de variáveis pessoais, os pesquisadores descobriram que as diferenças salariais entre as moças bonitas e as feias são muito pequenas no início de suas carreiras. Mas, acentuam-se em favor das bonitas com o passar do tempo.

A conclusão dos autores é que discriminações muito sutís ocorrem no mercado de trabalho em favor de advogadas bonitas. Dentre elas, estão as preferências dos empregadores, dos clientes, dos juizes e dos jurados. Essa preferência "torna" as moças bonitas mais produtivas.

Tais discriminações são proibidas por lei e pela constituição de todos os países e até por convenções internacionais (Convenção 111 da OIT).

No caso das moças feias, o sucesso depende de um desempenho bem acima da média. Em outras palavras, elas têm de compensar a sua escassez de beleza com um adicional de competência. Como se vê, o mercado de trabalho é cruel.