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Publicado em O Jornal da Tarde, 28/01/1998

A velocidade da vida

Você está cansado da agitação da cidade onde vive? Será que você poderia ter mais lazer em outro lugar?

Uma interessante pesquisa procurou comparar nada menos do que 31 países no que tange à velocidade da vida (Robert Levine, The Pace of Life in 31 Countries, 1997). O procurou verificar de que maneira os seres humanos fazem o equilíbrio entre o trabalho e o lazer.

Os pesquisadores usaram três medidas para avaliar a calmaria ou o nervosismo das principais cidades desses países. A primeira diz respeito à velocidade do andar das pessoas nas ruas. A segunda se refere à velocidade de trabalhar. E a terceira se relaciona com a precisão dos relógios localizados nas praças e nas repartições públicas.

Você pode discordar desses indicadores. Eu mesmo tenho minhas reservas. Mas, ainda assim, vale a pena observar os resultados. A maioria dos Países da Europa Ocidental localizou-se no topo nas três escalas. São países em que a vida é muito veloz.

Houve exceções interessantes. Por exemplo, a Suíça ficou em terceiro lugar na velocidade de andar; em segundo na de trabalhar; e em primeiríssimo - nem podia ser diferente - na precisão de seus relógios. O segundo lugar no trabalho foi devido a uma variação de 19 segundos observada na abertura e fechamento dos bancos em Genebra e Zurich! Vejam só: 19 segundos!

O Japão manteve-se em primeiro lugar nos três indicadores. Os americanos que se gabam tanto de rapidez, pontualidade e precisão obtiveram uma colocação sofrível. Por exemplo, New York ficou em sexto lugar na velocidade de caminhar; em 23o. na de trabalhar; e em 20o. lugar na precisão de seus relógios.

Mas, aonde a vida corre mais devagar? Dentre os países mais vagarosos ficaram o Brasil, a Indonésia e o México.

Em comparação com o Japão e a maioria dos países da Europa, os brasileiros levam a questão da hora marcada na base da esportiva. Os pesquisadores ficaram horrorizados ao saber que estamos preparados para esperar até duas horas de atraso de alguns convidados para uma festa de aniversário!

Eles verificaram ainda que, para a mesma classe social, o número de pessoas que usam relógio no Brasil é menor do que nos Estados Unidos e muito menor do que no Japão ou na Suíça. Registraram que muitos brasileiros tendem a manter seus relógios um pouco adiantados embora cheguem costumeiramente atrasados, dando como principais desculpas o trânsito, o transporte público e, incrível!, o próprio relógio!

Fiquei meio invocado com esses resultados. Acho que os pesquisadores não aprofundaram a compreensão do corre-corre das grandes cidades do Brasil. E menos ainda dos aspectos culturais que estão por trás de suas escalas. Por exemplo, no caso de uma festa de aniversário, é sabido que, no Brasil, se alguém chegar na hora marcada correrá o risco de ficar esperando os anfitriões se aprontarem, o que pode demorar meia hora ou mais.

Mas, deixando essas desavenças de lado, foi interessante observar o estilo La Dolce Vita é muito mais praticado pelos europeus do que pelos americanos e japoneses - a despeito dos primeiros se posicionaram alto nas três escalas. De fato, é na Europa que se observam as longas paradas para o café ou chá, os jantares demorados, as jornadas de trabalho mais curtas, as férias esticadas e o gosto por desfrutar bem o tempo livre.

Como explicar isso? A pesquisa mostra que o equilíbrio entre o trabalho e o lazer depende do valor que se dá ao "relax" e da velocidade e eficiência em andar, trabalhar rápido e respeitar os horários. Países desorganizados nas três medidas têm dificuldade para organizar o lazer e desfrutar o tempo livre.

Isso nos leva à uma conclusão dura: se você é daqueles que, ao longo de muitos anos, nunca teve tempo para se divertir, é bem provável que você não tenha sabido trabalhar com eficiência, tendo se deixado engolir pelo próprio trabalho. Você acha que conseguirá mudar?