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Publicado em O Jornal da Tarde, 28/09/1994

Quanto Tempo você vai Viver?

Aeróbica. Musculação. Natação. Cooper. Ioga. A lista é infindável. Nunca as pessoas se preocuparam tanto com saúde em busca de mais alguns anos de vida. Dietas. Vitaminas. Ervas. Comida natural. Tudo, enfim, canaliza a atenção do ser humano para viver mais e melhor.

Ganhei um livro sobre "longevidade". O amigo que me deu foi avisando com cautela: "Esse livro contém uma série de testes mas se você não se sair bem neles, não se preocupe. Eles são meras aproximações..."

Apesar da recomendação insidiosa, não resisti fazer uma auto-avaliação. Reproduzo abaixo alguns dos itens mais importantes para estimar quanto tempo uma pessoa vai viver. Para saber a sua situação, você deve somar todos e dividir o resultado por dois. Essa é a probabilidade de você viver acima ou abaixo da média de seu grupo.

Item

Pontos de Longevidade

Nunca Fumou

+ 20

Parou de Fumar

+ 10

Fuma 1 maço por dia

- 10

Fuma de 1-2 maços

- 20

Fuma mais de 2 maços

- 30

Toma álcool raramente

+ 10

Toma álcool constantemente

- 10

Faz exercícios 3 vezes/semana

+ 20

Faz exercícios 2 vezes/semana

+ 10

Não faz exercícios

- 10

Mantém peso ideal

+ 5

Fica acima de 3-5 quilos

- 1

Fica acima de 5-10 quilos

- 2

Fica acima de 10-15 quilos

- 3

Fica no "estica e encolhe"

- 10

Tem dieta balanceada

+ 3

Não tem dieta balanceada

- 3

Come na hora certa

+ 2

Come fora de hora, petisca

- 2

Evita carne vermelha

+ 5

Come frutas e verduras

+ 6

Evita gorduras

+ 5

Come bacon regularmente

- 1

Ovos, queijo e manteiga

- 3

Chocolate, sorvete, doce

- 3


Fonte: Kathy Keeton: Longevity, 1992.

No meu caso, a soma deu 50, ou seja, 25 pontos. Segundo a autora, tenho 25% de chance de viver acima da vida média dos homens que hoje está em torno de 65 anos. Esse adicional pode ser um ou mais anos, dependendo dos seguintes fatores: tendência à hipertensão, cardiopatia, diabete, stress, genética, história familiar, renda, estilo de vida, etc. Tais fatores podem anular os principais.

é interessante notar, entretanto, que em muitas sociedades, as pessoas estão conseguindo superar tudo isso e chegar a uma vida média muito alta. No Japão, por exemplo, as mulheres vivem 82 anos e os homens, 76. Cerca de 4.000 japoneses têm mais de 100 anos! Em 1950, apenas 5% da população tinha mais de 65 anos; hoje, são 13%; e no ano 2.010 serão 25%.

Com as devidas variações, essa é a tendência de quase todos os países. Com isso, o ser humano concretizará o seu sonho de viver mais, mas terá de enfrentar o problema de manter adequadamente as pessoas idosas.

No Brasil, em 1950, havia cerca de 180 mil aposentados; hoje são 15 milhões; e na virada do século, serão mais de 18 milhões. Em 1950, havia 16 pessoas trabalhando para sustentar um aposentado; hoje, são apenas 2,5; e no ano 2.000 serão menos de 2. Como gerar tanto recurso de tão poucos trabalhadores?

Esse é, sem dúvida, um dos grandes dramas da sociedade moderna. A ciência e a tecnologia nos propiciaram a gostosa oportunidade de viver mais. Todavia, até o momento, não descobrimos como desfrutar os anos que conquistamos.

O velho Thomas Malthus (1766-1834) errou redondamente quando prognosticou uma grande catástrofe pelo fato da população crescer a taxas geométricas e os alimentos a taxas aritméticas. Errou porque as ciências agrícolas desenvolveram variedades e métodos de plantio que conseguiram produzir comida em abundância para toda a humanidade (o que falta é renda para comprar alimentos).

Mutatis mutanti, as sociedades atuais estão sendo desafiadas a desenvolver novos tipos de instituições para sustentar condignamente os que lutaram por sua longevidade. Com a intensificação do trabalho dos casais mais jovens e com as dificuldades crescentes da vida urbana, será difícil contar com a família como instituição central nesse processo. Por isso, é imperioso começar desde já alguns projetos-piloto de apoio aos idosos capazes de criar o ambiente necessário para a nova sociedade de terceira idade que está na aí, virada da esquina. Que a população de idosos vai explodir, vai mesmo. Temos de nos preparar para isso desde já.