Publicado em O Jornal da Tarde,13/08/1997
O custo da privacidade
é impressionante a disseminação de câmeras indiscretas como mecanismos de controle do comportamento humano. Hoje, elas estão em toda parte: nos bancos, shopping-centers, supermercados, entradas de prédios, etc. Fiquei sabendo que em vários banheiros públicos as câmeras estão desempenhando um papel extraordinário para "espantar" as pessoas que ali se procuram esconder ou se drogar.
As câmeras estão ensinando os seres humanos. São verdadeiras pedagogas. Veja o caso das que fazem o controle de velocidade na cidade e nas estradas. Elas desempenham uma eficiente ação educativa junto aos motoristas - muito melhor do que fazem os milhares de policiais de trânsito. Afinal, as câmeras são imparciais e imunes ao suborno. De lambuja, elas controlam a corrupção. Em suma, estamos sendo re-educados pelas máquinas que inventamos.
Os dispositivos eletrônicos são muito promissores no controle dos desvios de comportamento e na prevenção de problemas sociais. McRae mostra que, no futuro, os seres humanos portarão uma espécie de caixa-preta subcutânea, implantada ao nascer. Trata-se de um micro-chip que registrará todos os movimentos das pessoas e seus interlocutores.
Na ocorrência de um crime, por exemplo, acabará essa história de investigar, durante anos, quem matou. Bastará ao juiz mandar abrir a caixa preta da vítima para saber quem esteve com ela na hora do crime - identificando o criminoso imediatamente (Hamish McRae, The World in 2020, 1994).
O poder preventivo de uma tecnologia desse tipo é inimaginável nos dias atuais. E dizem que ela estará disponível antes do fim do milênio.
Em alguns anos, a resolução dos problemas sociais não dependerá mais de tecnologias desconhecidas e sim de decisões nos campos da ética e da moral. O grande debate será o de se aceitar ou não esse tipo de invasão da privacidade humana. As resistências serão colossais. Os mais extremados perguntarão: valerá a pena viver num mundo tão controlado?
Tudo indica que as tecnologias estarão prontas muito antes das pessoas. As discussões sobre essa matéria poderão se arrastar por várias décadas. O que você acha? O homem vai se render aos controles da máquina ou vai preferir ficar com os graves problemas sociais, tais como, a terrível mortandade do trânsito ou a explosão de crime e violência?
Esse será também um dilema econômico. Nos Estados Unidos, onde há estatísticas para tudo, sabe-se que as despesas de se locomover com automóveis, incluindo-se aqui a construção de estradas, ruas, praças e os próprios veículos - assim como estacionamentos, segurança, hospitalização de feridos e outras despesas - chegam a US$ 300 bilhões por ano! Por sua vez, a criminalidade, quando analisada em seus gastos diretos (policiamento, justiça, presídios, etc.) e indiretos (perdas materiais, traumas psicológicos, disseminação de medo, etc.) custa US$ 500 bilhões por ano! São cifras assustadoras, lembrando-se que o PIB norte-americano está em torno de US$ 7 trilhões.
Você já imaginou quanto investimento bom poderá ser feito - e bem feito - em benefício da humanidade quando se eliminar a gigantesca drenagem de recursos ocasionada pelos problemas sociais? Será que a nossa privacidade vale qualquer preço? Essa é uma pergunta a ser respondida pelos nossos netos. Mas, você pode ir ensaiando a sua resposta...
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