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Publicado em O Jornal da Tarde,19/04/1997

O ciúme no trabalho

Os problemas de ciúme no trabalho são mais freqüentes do que parecem. O caso mais comum é o do subordinado que se amargura toda vez que um colega é cortejado pelo chefe - da mesma forma que a minha neta se torce, contorce e retorce quando vê o seu irmãozinho conquistando o carinho dos pais.

Os funcionários demasiadamente ciumentos sonham em deter o monopólio das atenções do chefe. E, para tanto, desenvolvem comportamentos inusitados: escondem dados dos colegas, fornecem informações parciais, comportam-se com intolerância - não medindo as conseqüências de seus atos para o bom funcionamento da empresa.

é preciso distinguir ciúme de inveja. O ciúme é um sentimento que visa proteger uma relação valiosa. O desejo do ciumento é desfrutar o objeto do ciúme.

O desejo do invejoso, ao contrário, é ver o fracasso do invejado. A inveja é um sentimento de cólera que o sujeito experimenta quando percebe que o outro possui um objeto desejável. A reação mais comum é a de posse do objeto ou destruição do possuidor (Amélia Tomei e Françoise Belle, A Inveja nas Organizações Brasileiras e Francesas, Revista de Administração, 1997).

Por isso, é normal esperar-se que a mulher sinta ciúme do marido, mas não que lute pelo seu fracasso (inveja).

No trabalho, o excesso de ciúme tende a bloquear oportunidades valiosas para as pessoas e para a empresa. é isso que acontece quando a secretária, por ciúme, decide filtrar as demandas que chegam ao chefe.

Muitos atribuem o ciúme a um rebaixamento da auto-estima, aos problemas da infância e a deficiências psicológicas. As pesquisas mostram, porém, que o ciúme não é um distúrbio emocional mas sim um produto de um desbalanceamento de gratificações (Gordon Clanton, A Sociology of Jealousy, 1996).

A administração do ciúme cai no terreno da administração do poder. A redução do ciúme depende muito mais de negociação de atenções do que de erradicação psicológica. Nesse campo, os mediadores são mais úteis do que os curadores.

As pessoas que detêm poder gastam muito tempo administrando vaidades. Não há outra saída. Só assim elas conseguem evitar que o ambiente de trabalho se transforme num festival de flechas envenenadas.

O ciúme é reflexo de um desequilíbrio na distribuição das atenções. Isso depende muito dos chefes. Convém a eles perguntarem a si mesmos, no fim de cada dia: Como distribuí minha atenção? Alijei alguém? Isso afetou a conduta dos meus funcionários?

A administração do ciúme envolve quem detém poder e quem deseja atenção. A unidade de trabalho é o amálgama das duas partes e não cada uma em separado. Convém aos chefes fazerem um esforço constante na direção a um mínimo de equilíbrio na distribuição do poder e lutar para o ciúme não virar inveja.

Todavia, convém atentar para um detalhe. Tão perigoso quanto o excesso de ciúme é a sua ausência. Para a organização, é importante manter abertos os canais para a expressão de alguns sinais de ciúme. A negação total do ciúme pode conduzir as pessoas à indiferença e apatia.

Parece paradoxal mas, as pesquisas confirmam isso. No trabalho, alguns chiliques de ciúme são necessários, da mesma forma que a sua ausência é prejudicial. Como regra prática, lembre-se do seguinte: pior do que as cenas de ciúme da sua mulher é quando ela pára de reclamar...