Publicado em O Jornal da Tarde, 04/03/1994
Corrupção e diabetes
A Revista The Economist publicou, recentemente, os resultados de uma pesquisa sobre o combate à corrupção na Itália. O trabalho foi realizado pelo sociólogo Pino Arlacchi que procurou descobrir o que aconteceu com os empresários, antes e depois da "operação mãos limpas".
Apenas 2% disseram nunca ter dado gorjetas para realizar negócios com o governo, antes da referida operação. Cerca de 7% revelaram que as propinas eram ocasionais. Para 25%, elas eram frequentes; para 34%, muito frequentes; e para 32%, eram inevitáveis (The Economist, 05-02-94).
A corrupção foi uma prática generalizada na Itália. Mas, ao pesquisar a atual opinião dos empresários - depois da operação mãos limpas, Arlacchi constatou, com surpresa, que para nenhum dos entrevistados a corrupção foi dada como exterminada. Ao contrário, para 17%, ela ficou exatamente como estava e continua operando da mesma maneira. Para 44%, ela diminuiu um pouco; para 39%, houve uma redução um pouco mais acentuada. Mesmo nestes dois últimos casos, a corrupção contínua viva. Os entrevistados acreditam que ela pode voltar aos patamares anteriores a qualquer momento.
Segundo estimativas do Instituto de Pesquisas Luigi Einaudi, a corrupção na Itália foi responsável por um adicional de 15% da dívida pública, ou seja, US$ 200 bilhões! (Business Week, 06-12-93). é evidente que a corrupção inflaciona custos e torna a administração pública exageradamente cara o que, em última análise, aumenta a dívida do governo e eleva os preços para os consumidores.
é pena não dispormos de dados semelhantes para saber qual seria o "ranking" do Brasil, no volume e no impacto econômico da corrupção. Desconhecemos também o que aconteceu com a corrupção antes e depois do escândalo do orçamento. Parece ser plausível, porém, levantar-se a hipótese de que o quadro brasileiro é parecido com o italiano. Basta lembrar que várias das irregularidades apuradas pela CPI do orçamento foram praticadas depois da CPI do Collor. Ou seja, nem o impeachment assustou os profissionais do crime organizado. Aliás, muitos deles, foram os mesmos que, na votação do impeachment, machistamente ornamentaram seu voto com frases inesquecíveis, tais como: "Pela ética; pela minha família; pela Bahia; e pela minha Pátria, voto sim"!
A corrupção faz parte de nossa "tradição de negócios" e, como tal, não pode ser destruída do dia para noite. Os estudiosos dessa matéria consideram esse problema como doença incurável. Isso não significa que a sociedade
deve fé resolver problemas; trabalhar em equipe; e, sobretudo, que tenham condições de aprender continuamente. O Brasil terá de intensificar muito os atuais mecanismos de qualificação de mão de obra, começando pelo ensino de primeiro lugar e indo até à formação mais especializada realizada pelo SENAI, SENAC E SANAR - além de escolas técnicas e universidades.
No campo da flexibilização, já é hora da nossa legislação trabalhista abrir espaços para a contratação de grupos estratégicos com menos encargos sociais. Esse é o caso, por exemplo, dos jovens que podem completar a sua formação profissional dentro da própria empresa. No campo dos encargos sociais, o Brasil é um país de tudo o nada: ou se contrata com todos os encargos ou se contrata sem nenhum encargo. Temos de flexibilizar a nossa legislação e amparar as novas formas de contratação que estimulem as empresas a admitir e, ao mesmo tempo, investir na melhoria dos contratados.
O "cerco trabalhista" tende a apertar cada vez mais. Não há dúvida: o mundo do futuro vai forçar a elevação dos salários e a melhoria das condições de trabalho. Isso é justo e humano. Mas, para tudo dar certo, é fundamental que a mão de obra renda mais; entenda as tecnologias; torne-se polivalente; e vista a camisa do desenvolvimento. Isso tudo depende de muita educação e bastante flexibilização. As pedras estão no tabuleiro. Falta apenas jogar.
Eles trabalham no calor, no frio, no claro, no escuro, no ar puro e no ar poluído. Por isso, economizam energia, dispensam iluminação, refrigeração, aquecimento e purificadores de ar. Trabalham em locais apertados e insalubres. Não reclamam e não faltam no serviço. E trabalham nos fins de semana com o mesmo entusiasmo que o fazem nos dias úteis.
abilidade da moeda.
O professor Samuel Huntington, da Universidade de Harvard, que Fernando Henrique conhece tão bem, tem uma tese segundo a qual, nos países em desenvolvimento, é muito mais fácil realizar eleições do que reformar a economia. Seria pretencioso pretender derrubar a tese de Huntington. Mas os ingredientes disponíveis são tão favoráveis que colocam o
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