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Publicado em O Jornal da Tarde, 30/06/1999

Um cão de R$ 3.500,00

Você compraria um cão por R$ 3.500,00? Pois saiba que o robô-cachorro recém lançado pela Sony por US$ 2 mil já criou uma fila de mais de mil pretendentes que não vêem a hora de adquirir o novo bichinho de estimação.

Não é para menos. O "Aibo" (nome do cão, que em japonês significa companheiro) é capaz de deitar, levantar, abanar o rabo, jogar bola e até mesmo coçar as costas do dono. Ele ainda não consegue entender mensagens verbais e nem é capaz de trazer o seu jornal automaticamente. Também, o que você deseja pela bagatela de US$ 2 mil?

Para muitos, a fila de pretendentes é uma fila de loucos da mesma maneira que são classificados como desvairados os milhões de pessoas que estão comprando brinquedos robotizados US$ 200.00 e mais.

Mas para quem acompanha o mundo do trabalho, não há nada de desatino nessa conduta aparentemente esdrúxula. A penetração dos robôs nas atividades produtivas é enorme. Até recentemente, eles haviam entrado para fazer trabalhos perigosos e insalubres como é o caso dos robôs-pintores, soldadores, consertadores de auto-fornos, etc.

Mas o mercado de trabalho para os robôs está se expandindo para além fronteiras. Estamos entrando na era das criaturas digitais que, neste primeiro estágio, assumem as formas de cães, gatos e macacos mas, dentro em breve, encarnarão os seres humanos, fazendo serviços domésticos, cuidando de doentes, assistindo deficientes, ensinando crianças e realizando várias outras atividades até então impensáveis de serem realizadas fora do reino humano.

O mundo nunca investiu tanto em robotização quanto nos últimos dois anos. A Sony, que mantém negócios da ordem de US$ 40 bilhões na área de produtos eletrônicos, investe US$ 2 bilhões anuais em robôs.

A Matsushita Eletric Industrial Company, investiu pesadamente no período de 1997-98, para chegar ao protótipo de um robô que fala, planejado para entreter a enorme população de idosos do Japão que é tão grande quanto solitária.

A Honda Motor Company já desenvolveu um robô com formas humanas que é capaz de subir e descer escadas nas mais variadas alturas, podendo se encarregar sozinho da limpeza das janelas de arranha-céus e consertar fios elétricos de alta tensão em lugares inóspitos.

O Massachussets Institute of Technology dos Estados Unidos, depois de ter construído inúmeros robôs que estão explorando Marte e outros planetas, quer ir ainda mais longe: está investindo no desenho de um robô que vai administrar toda uma empresa!

Essa revolução tecnológica, ao mesmo tempo que entusiasma, acaba gerando apreensão. Estaria aí a destruição final dos poucos empregos que ainda restam para nós seres humanos, pobres mortais?

Nada disso. As estatísticas mostram que a entrada de robôs cria uma imensidão de novos empregos. Em primeiro lugar, estão os trabalhos ligados à própria concepção e fabricação dos robôs assim como sua manutenção. Em segundo lugar, estão novos trabalhos propiciados pelos ganhos de produtividade proporcionados pelos robôs.

Nos Estados Unidos o setor de alta tecnologia criou mais de um milhão de novos postos de trabalho no período de 1994-98, sendo que a renda dos seus trabalhadores é 77% mais alta do que a média da indústria.

No Brasil, os robôs de segunda geração (mais sofisticados) também têm contribuído para a produtividade e ampliação de investimentos e emprego. Vários laboratórios de análises clínicas de São Paulo, por exemplo, já incorporaram inúmeros robôs em atividades até pouco tempo realizadas só por seres humanos e, com isso, ganharam eficiência e partiram para a ampliação de serviços e emprego.

Por isso, não se assuste com a entrada dos robôs. A robotização é uma revolução sem volta. Tudo indica que ela vai contribuir de forma positiva para a expansão do trabalho humano. é claro que será um tipo de trabalho que vai exigir mais inteligência e muita criatividade pois, as coisas de rotina serão feitas pelos próprios robôs. Conclusão: em lugar de gritar "parem o mundo porque eu quero descer", procure estudar o tempo todo e se preparar para conviver "numa boa" com robôs companheiros.