Publicado em O Jornal da Tarde,31/07/1996
Trabalho e divórcio
A grande maioria dos estudos sobre separação focaliza os desajustes emocionais dos parceiros. Esses trabalhos têm contribuído muito para a avaliação dos riscos de divórcio. Entretanto, ao tratar das causas ligadas aos cônjuges, eles ignoram o papel dos fatores externos. Afinal, os casais não vivem no vácuo. Eles participam de grupos de vizinhança, amizade e trabalho.
O que o trabalho tem a ver com divórcio? Scott J. South e Kim M. Lloynd em publicação recente (Spousal Alternatives and Marital Dissolution, 1995), mostram que as separações são fortemente afetadas pelo que ocorre na situação de trabalho. Eles revelam que, nos Estados Unidos, 42% dos recém-divorciados tiveram, pelo menos, um envolvimento afetivo no ambiente de trabalho no período imediatamente anterior ao rompimento (6-12 meses). Não é a toa que a infidelidade conjugal é uma das causas mais citadas entre os que decidiram se separar.
Os autores tratam o local de trabalho como um mercado que, como tal, segue as forças da oferta e da procura também em matéria de romance. O divórcio incide mais quando aumenta a quantidade e a qualidade das chamadas "alternativas atraentes". Nessas circunstâncias, as pessoas buscam mais informações sobre tais alternativas e, com frequência, arriscam um relacionamento afetivo que, na maior parte das vezes, acaba se tornando a gota d'água para a separação.
A oferta de alternativas atraentes está longe de ser a causa primeira do divórcio. Mas, não há dúvida que a sua disponibilidade é um precipitador importante para as pessoas que têm problemas no casamento.
Dentre os indicadores da oferta das alternativas atraentes para os homens pesa muito a proporção de mulheres que trabalham ou estudam assim como o número de solteiras, separadas ou divorciadas que com eles convivem no mesmo ambiente. Isso vale também para as mulheres, quando se trata da oferta de alternativas masculinas.
A pesquisa mostra que o papel das alternativas atraentes do ambiente de trabalho é mais decisivo do que as da vizinhança ou do grupo de amigos. A "feminização" do mercado de trabalho aumentou a interação entre homens e mulheres. O relacionamento interpessoal passou a ter muita chance de evoluir em direção à intimidade agravando, assim, a instabilidade emocional dos cônjuges.
Os impactos das alternativas atraentes são mais pronunciados entre os homens. Afinal, a mencionada feminização do trabalho ampliou a oferta de mulheres.
Além disso, as mulheres que trabalham, casam mais tarde - o que faz aumentar substancialmente a disponibilidade das não casadas engordando a oferta de alternativas atraentes para os homens.
Portanto, por vários caminhos chega-se à conclusão de que a feminização do mercado de trabalho tornou-se um indutor indireto de divórcio.
Isto não diminui o efeito dos fatores psicossociais, é claro, mas agrega um poder explicativo importante para esclarecer a colossal aceleração do divórcio dos últimos 20-30 anos.
A tendência à feminização do trabalho é mundial. No Brasil, 39% da mão de obra é composta de mulheres. Nos setores de comércio e serviços isso ultrapassa os 50%. Nos bancos, escritórios, hospitais, escolas, lojas de departamento a proporção chega a 80%.
Essa tendência tende a prosseguir. Por isso, a manutenção dos casamentos dependerá cada vez mais de um bom ajustamento entre os cônjuges. Do contrário, as chances de divórcio passam a ser enormes.
Conclusão: Se o seu casamento está em pé, você tem aí um motivo adicional importante para nele investir tudo o que pode. A concorrência externa está fortíssima. As tais alternativas atraentes estão em toda parte, em especial no trabalho. Dentro em breve, serão globalizadas... via Internet.
Por isso, não facilite. O trabalho, mais do que nunca, conspira contra a estabilidade do seu casamento...
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