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Publicado em O Jornal da Tarde,28/02/1996

Como vai o seu stress?

Sou muito feliz por ter um amigo-irmão. Coisa rara. O leitor sabe do que estou falando. é daqueles que, mal começo a frase, e ele intui o meu estado de espírito.

Há poucos dias, ao observar em mim claros sinais de cansaço e, ao mesmo tempo, uma relutância eqüina em desacelerar o ritmo de trabalho, o bom amigo abriu um livro sobre o coração onde estava escrito o seguinte:

"Não é fácil para as pessoas admitirem que elas devem mudar seus hábitos de trabalho. A maioria tem de ser abatida por um enfarte para, então, reavaliar as suas prioridades de vida. Você que está lendo isto, não espere chegar nesse ponto. Pare. Faça a sua reavaliação já".

A frase estourou como uma bomba na minha cabeça. Resolvi parar. Desliguei por dez dias. Não li nem jornal. E nada de TV. Fiz a tal reavaliação. Conclui, preliminarmente, que as duas principais fontes de stress são os problemas do trabalho e os da família. Passado o descanso, decidi pesquisar o tema. Encontrei um estudo realizado por três sociólogos canadenses. E vi que a coisa é bem mais complexa.

O stress pode ser crônico ou agudo. O crônico decorre da acumulação de fatores estressantes, tais como, frustrações profissionais e emocionais, sobrecarga de trabalho, crises repetitivas, etc. é difícil de controlar.

O stress agudo resulta de eventos abruptos tais como uma morte em família, uma doença grave, uma separação, uma crise financeira, um crime, etc. A superação desse stress não é fácil, mas o tempo costuma ser um bom balsamo.

O estudo mostra que os fatores estressantes interagem entre si, o que potencializa os seus efeitos. Ademais, eles afetam as pessoas de forma diferente conforme é a sua situação sócio-econômica, estado civil, idade e sexo (R. Jay Turner, Blair Wheaton e Donald A. Lloyd, "The Epidemiology of Social Stress", American Sociological Review, Vol. 60, 1995).

Os autores usaram uma escala de 51 itens para identificar o nível de stress das pessoas. Desse total, cerca de 20 itens estão no campo do trabalho. Selecionei 10 deles para o leitor ter uma idéia como isso funciona. é uma mera aproximação. Por favor, não entre em pânico.

Para cada item da escala abaixo, atribua o valor zero quando a frase não se aplica ao seu caso; dê o valor 1, quando ela se aplica parcialmente; e 2, quando se aplica totalmente. Se você obtiver entre 1 e 5 pontos, o seu nível de stress é leve; se for entre 6 e 13 pontos, é sério; e, acima disso, é muito sério - está na hora de você ler em voz alta a frase do meu amigo e fazer a sua reavaliação.

 

 

Itens da Escala

Valor

1. Você está fazendo muitas coisas ao mesmo tempo

 

2. Você trabalha mais do que a maioria das pessoas

 

3. O seu trabalho não dá tempo para tirar férias

 

4. Você gostaria de fazer um trabalho diferente

 

5. Você tem muitos conflitos no trabalho

 

6. As pessoas esperam muito de você no trabalho

 

7. Os seus superiores não "saem do seu pé"

 

8. O seu trabalho restringe a sua liberdade

 

9. Seus recursos não bastam para atender a família

 

10. Você está com uma dívida muito grande

 

Total

(Soma)

Então, onde você se encontra? O meu total deu 10. Tenho de por as barbas de molho e fazer baixar essa marca.

A redução do stress no trabalho começa pela manipulação das situações que estão ao alcance da pessoa. Dos dez itens da escala, seis estão fora do meu controle. Por isso, tenho de começar pelos outros e, mais adiante, tentar converter itens incontroláveis em controláveis. Será um trabalho duro. Mas estou disposto a enfrentar. E você?

Vou trabalhar uns seis meses nessa direção e ver o que acontece. Depois eu conto. Espero, é claro, que essa nova atividade não me trague um novo tipo de stress... o "stress do combate ao stress".