Publicado em O Jornal da Tarde,25/10/1995
Viver junto
Para os estudiosos da família está sendo surpreendente verificar que os casados estão se separando na mesma velocidade com que os não-casados estão se juntando, sem casar.
Nos Estados Unidos, quase 50% dos casamentos se rompem em divórcios. Na Suécia, é mais do que isso. Até o Japão, que sempre pôs tanta fé na família, tem uma taxa de divórcio que atinge quase 30% dos casais.
Ao mesmo tempo, dispara o número de parceiros que vivem juntos sem se casar. Nos Estados Unidos, entre 1980 e 1991, houve um aumento de 80% nesse tipo de união. Cerca de 50% dos casais jovens (menos de 40 anos) já estão nessa. "Viver junto" passou a ser uma forma cômoda de usar o mesmo teto, mantendo contas bancárias bem separadas.
Ainda não se chegou a uma teoria consolidada sobre as vantagens de casar ou viver junto. Mas, as pesquisas mostram diferenças intrigantes entre os dois arranjos. As pessoas que vivem junto, por exemplo, tendem a ser menos comprometidas do que as casadas. Nelas, a infidelidade é mais frequente. Em uma amostra de 1.235 mulheres que vivem junto, a Professora Renata Forste da Western Washington University, verificou que 20% traem seus parceiros rotineiramente enquanto que, entre as casadas, isso não passa de 4%. Por ser turno, Linda Waite, da Universidade de Chicago, registrou um nível de satisfação sexual muito mais alto entre os homens casados do que entre os que vivem juntos (Jennifer Steinhauser, No Marrige, no Apologies,1995)
é claro, tudo isso é média. Se você está num ou noutro caso, não se assuste. Há exceções. Mas, até hoje ainda não ficaram claras as vantagens reais de "viver junto" quando comparadas com as eventuais desvantagens de se casar. Os dados mostram que 50% dos que vivem juntos se separam dentro de cinco anos - contra 30% dos casados.
Apesar disso, viver junto está ganhando todas as praças. Na Suécia, cerca de 50% das crianças são filhas de pais não-casados; na França, 35%; nos Estados Unidos, 30%. São números expressivos e que indicam uma alta a probabilidade dessas crianças virem a ser criadas por apenas um dos parceiros, dada a grande incidência de separação entre os que vivem juntos.
No Brasil, a proporção de "famílias-quebradas" ultrapassou a casa dos 10% - na maioria dos casos chefiadas pela mulher. Para uma boa parcela da população brasileira, a escassez de pais já é um problema sério.
Os números de divórcio e separação não deixam dúvida de que o casamento está em crise. Entretanto, a sociedade parece não ter encontrado, até o momento, dois substitutos adequados para o matrimônio e a família. Se o casamento dura pouco, viver junto dura menos ainda e nesse processo, as crianças são as grandes prejudicadas pois as conseqüências da separação acabam se arrastando por várias gerações.
Em suma, os seres humanos têm uma enorme compulsão para experimentar o novo. Agora, eles estão sendo desafiados a transformar tais experimentos em instituições sociais que funcionem - o que é bem mais difícil do que simplesmente embarcar em modismos.
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