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Publicado em O Jornal da Tarde,07/12/1994

Robôs e Empregos

Com essa minha mania de "fuçar" livrarias, acabei encontrando, outro dia, o "Censo Mundial dos Robôs" (ONU, "World Industrial Robot Statistics", 1992).

Aprendi, então, que a demografia dos robôs é bem diferente da demografia humana. A taxa de crescimento das populações humanas vem caindo, enquanto que, a de robôs vem aumentando. A taxa de crescimento da população brasileira, por exemplo, caiu de 3% ao ano na década de 50 para menos de 2% nos dias atuais. Enquanto isso, a população mundial de robôs, no início da década de 80, cresceu à base de 45% ao ano e no meio da década, saltou para 74%! São números impressionantes.

Os últimos dados do referido censo são de 1992 e limitados aos robôs industriais. Naquele ano, havia cerca de 600 mil robôs em todo o mundo. O crescimento entre 1990/91 baixou para 16% e, em 1991/92, para 8%, como reflexo da recessão que atingiu os países mais avançados. Estima-se, porém, que essa taxa tenha voltado a crescer à base de uns 20% ao ano na reativação da economia, à partir de 1993. Assim sendo, o estoque de robôs em 1994 deve estar perto de 900 mil unidades e ultrapassará a casa dos 2 milhões bem antes do final do século.

Esses "bichinhos" resolvem uma série de problemas e criam outros. Lembremos das proezas dos robôs das cápsulas espaciais que se encarregam de colocar e trazer de volta os tripulantes da nave. Que beleza de espetáculo!

Fiquei sabendo que uma usina siderúrgica brasileira tem um robô instalado no meio das altíssimas temperaturas do seu alto-forno, a fim de reparar uma rachadura. O conserto deverá estar pronto dentro de alguns meses - tarefa impossível para qualquer ser humano.

A maioria dos robôs industriais ainda é usada em atividades perigosas, insalubres e penosas como solda; montagem contínua; pintura em recinto fechado; carga descarga e outros. Para os seres humanos é bem melhor pilotar robôs do que viver no calor de uma secção de soldagem ou na poluição de um setor de pintura.

Ocorre que, na indústria, um só robô está substituindo, em média, três trabalhadores por turno o que significa nove posições de trabalho no período de 24 horas. Em países onde há escassez de mão de obra como, por exemplo, o Japão, justifica-se a existência de 312 robôs por 10 mil trabalhadores. Mas, num país como o Brasil, a robotização - embora não possa e não deva ser evitada - terá de ser bem pensada. Fui informado que um banco em São Paulo está usando robôs para transportar fitas magnéticas das prateleiras para os computadores (5 metros de distância) e vice-versa. Será que essa atividade e tão perigosa, insalubre e penosa para um ser humano executá-la?

é bem provável que essa decisão tenha se baseado em critérios de custo e eficiência. Os robôs estão se tornando mais baratos do que os seres humanos. Além do mais, eles não faltam ao serviço; não vão ao banheiro; não tiram férias; e não fazem greve...

é irônico verificar que os seres humanos criaram os robôs para facilitar sua vida e, agora, os enfrentam como concorrentes no escasso mercado de empregos dos dias atuais.

Mas, como é praticamente impossível inverter essa tendência, só nos resta preparar cada vez melhor a nossa juventude e flexibilizar o modo de contratar as pessoas, abrindo um espaço para trabalhadores e empresários fazerem os arranjos que melhor se ajustem às suas necessidades. No Brasil, isso tudo se resume na urgente necessidade de melhorarmos os processos de educação e formação profissional assim como, simplificarmos a nossa legislação trabalhista e previdenciária, ajustando-as a uma economia que, daqui para frente, ficará cada vez mais aberta e mais competitiva.