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Publicado em O Estado de S. Paulo, 12/08/2003.

Mobilidade social dos partidários do PT

O Brasil é um dos campeões de desigualdade social mas é também um destacado recordista de mobilidade social.

A chegada dos partidários do PT ao poder central bateu um novo recorde. Os dados da tabela abaixo mostram que quase todos os ocupantes do governo central tiveram uma origem social muito modesta, sendo filhos de pais que, por seu "status" educacional e profissional, pertenceram aos estratos sociais mais baixos. Em apenas uma geração, os petistas percorreram a pirâmide social da base até o topo.

Mobilidade dos Governantes do PT

(Nível Federal)

Governante

Cargo

Educação

Profissão

Educação do pai

Profissão do pai

1. Luiz Inácio Lula da Silva

Presidente

Técnico

Torneiro mecânico

Analfabeto

Lavrador

2. José Dirceu

Min. da Casa Civil

Superior

Advogado

1o Grau completo

Grafico

3. Luiz Dulci

Secretário Geral da Presidência

Superior

Prof. de português

2o Grau completo

Pequeno Comerciante

4. Luiz Gushiken

Secretário de Comunicação

Superior

Adm. de empresas

1o Grau incompleto

Lavrador

5. Cristovam Buarque

Ministro da Educação

Superior

Prof. de economia

1o Grau incompleto

Vendedor de tecidos

6. Dilma V. Roussef

Ministra de Minas Energia

Superior

Economista

Superior

Eng. e Advogado

7. Marina Silva

Ministra do Meio Ambiente

Superior

Prof. de História

1o Grau incompleto

Seringueiro

8. Jaques Wagner

Ministro do Trabalho

Sup.incompleto*

Petroquímico

1o Grau incompleto

Pequeno Comerciante

9. Humberto Costa

Ministro da Saúde

Superior

Médico

2o Grau incompleto

Comerciário

10. Márcio T. Bastos

Ministro da Justiça

Superior

Advogado

Superior

Médico

11. Ricardo Berzoini

Ministro da Previdência

Superior

Engenheiro

Curso Técnico

Militar

12. Guido Mantega

Ministro do Planejamento

Superior

Prof. de economia

Superior

Empresário

13. Antonio Palocci

Ministro da Fazenda

Superior

Médico

Superior

Funcionário Público

14. Miguel S. Rossetto

Ministro do Desenv.Agrário

Sup.incompleto**

Técnico mecânico

Superior

Funcionário Publico

15. Benedita da Silva

Ministra da Ação Social

Superior

Assistente social

1o Grau incompleto

Garagista

16. José Graziano

Ministro Segurança Alimentar

Superior

Prof. de economia

Superior

Agrônomo

17. Olívio Dutra

Ministro da Cidades

Superior

Professor e bancário

1o º Grau incompleto

Carpinteiro

18. Tarso Genro

Secretário do CDES

Superior

Advogado

2o º Grau completo

Professor

Pesquisa do autor. (*) Escola de Engenharia-RJ. (**) Faculdade de Ciências Sociais-RS.

Essa ascensão social não se deu de repente. A educação ajudou muito. A grande maioria dos governantes tem nível universitário, bem superior ao de seus pais.

Mesmo no caso do Presidente Lula em que a educação formal é mais baixa, o salto foi grande. Seu pai era analfabeto e trabalhou como lavrador. Lula é de família de oito filhos. Ao cursar o SENAI (1963-69), tornou-se o irmão de maior êxito profissional. Como ele mesmo diz, foi o primeiro a ganhar acima do salário mínimo, a comprar uma televisão, uma casa e um carro. Sua mãe criou os oito filhos morando em um único cômodo, nos fundos de um bar, no bairro do Ipiranga (São Paulo), em condições precaríssimas.

Para a maioria dos governantes indicados, o apoio da educação foi "turbinado" pela política. Luiz Dulci, por exemplo, formou-se professor em letras, alcançando logo postos estratégicos no partido. Elegeu-se deputado federal por Minas Gerais, foi secretário de governo e, hoje, é Secretário Geral da Presidência da República.

Luiz Gushiken, é filho de lavrador de baixa escolaridade. Cursou a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (SP), foi dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, deputado federal e Presidente Nacional do PT e ocupa atualmente um dos cargos de maior influência na formação da opinião pública brasileira.

Marina Silva é um caso notável de ascensão meteórica. Filha de seringueiro, conseguiu entrar na universidade, formou-se em história, elegeu-se vereadora, deputada estadual e senadora da República. Hoje é Ministra.

Cristóvam Buarque é filho de um vendedor de tecidos que tinha apenas três anos de escola. Formou-se engenheiro-mecânico em Pernambuco e doutorou-se em economia por uma das mais prestigiosas universidades do mundo – a Sorbonne! Foi professor e reitor da UNB e Governador do Distrito Federal. Atualmente é senador e Ministro.

Os casos comentados se referem apenas ao primeiro escalão. Mas a mobilidade social foi intensa também em outros níveis, em especial, entre sindicalistas que combinaram educação com política.

Jair Meneguelli, Presidente do Conselho Nacional do SESI (topo do Sistema S), observa: "No tempo da hiper-inflação não precisava saber muita coisa para ser um bom dirigente sindical. Era fácil mobilizar milhares de trabalhadores para reclamar perdas de 80% ou 100% do salário. Com o controle da inflação, aquele tipo de apelo perdeu a força. As negociações passaram a girar em torno de produtividade, competitividade, emprego, políticas públicas e outros assuntos que requerem conhecimento. A verdade é a seguinte: Nos dias de hoje, quem não é educado, não tem lugar no mundo do sindicalismo".

Para muitos, a ascensão social funciona como um anestésico do descontentamento social. Quem sobe fica contente e não se revolta. Para outros, a ascensão gera insatisfação. Quanto mais sobem, mais as pessoas querem subir. O fato é que, durante a ascensão, as pessoas se identificam tanto com os valores da classe onde chegam que, comumente, se esquecem dos valores da classe de origem. Será que isso vai acontecer com os partidários do PT? A resposta terá de ser colhida na história.