Sexta 7 de dezembro de 2018
Como será o sindicato na revolução 4.0?
José Pastore
Bolsonaro ganhou a eleição com base no telefone celular. Donald Trump fez a mesma
coisa em 2016. Paris ficou em chamas na última semana devido a um movimento
capitaneado pelo WhatsApp. Em artigo interessante, a revista The Economist especula
que os próprios sindicatos poderão recobrar seu fôlego com base na comunicação entre
trabalhadores via redes sociais (“Workers of the world, log on!”, TheEconomist,
17/11/2018). Em quase todos os países, os sindicatos laborais vêm perdendo filiados por
causa da entrada maciça de novas tecnologias no sistema produtivo. Estas provocam
uma fragmentação das empresas e desconcentração dos trabalhadores.
Outros exemplos recentes são a greve bem-sucedida de
25 mil professores no estado de West Virginia (EUA) e
o movimento dos atendentes da rede de café Starbuck
que conseguiram afastar medidas de discriminação
impostas pela empresa. Em 2016, o sindicato de gás e
eletricidade de Baltimore mobilizou mais de 20 mil
trabalhadores em uma greve vitoriosa via redes sociais.
No mesmo ano, o sindicato dos empregados da empresa
Verizon conseguiram aumentos salariais substanciais do
mesmo modo.
Ocorre que nem tudo são flores nesse campo. Os movimentos deflagrados pelo
WhatsApp e outras dias sociais são ondas difusas e sem lideranças identificáveis.
Para os empregadores que estão acostumados a lidar com dirigentes sindicais de carne e
osso, esse é um enorme desafio. Eles terão de apreender a dialogar com tais
movimentos, pois eles comprometem muito a imagem das empresas. Convém lembrar a
“greve dos caminhoneiros” (2018) realizada de forma relâmpago e eficiente por meio do
WhatsApp. Os ativistas alcançaram muitos dos seus objetivos porque governo,
empresários e consumidores ficaram encurralados sem saber como negociar com os
manifestantes.
O mesmo ocorreu no citado movimento de Paris nesta semana. A França cogitou
decretar estado de sítio tamanho foi o desespero dos governantes. No início, o
movimento protestou contra o aumento dos combustíveis, mas logo evoluiu para o alto
custo de vida e para questões tributárias. Em que adianta um estado de sítio para lidar
com movimentos difusos e sem lideranças? Manuel Castells vários anos vem
prevendo que as redes sociais serão o meio de decisões econômicas e políticas de
grande alcance na sociedade moderna, deixando claro que ignorá-las é tão perigoso
quanto confrontá-las com armas antigas (Manuel Castells, A Sociedade em Rede,
Editora Paz e Terra, 2015).
Se essa estratégia ainda não adentrou nos sindicatos do Brasil, não significa que não
venha a pegar no futuro. O Presidente da CUT, Vagner Freitas, assim analisa a situação
brasileira: “... o maior problema do líder sindical atual não é dinheiro, mas ter
dificuldade para ouvir as massas. Os trabalhadores estão cada vez mais pulverizados, e
não concentrados num único local, dificultando a abordagem dos representantes
sindicais e uma ação conjunta. Nosso desafio é organizar os trabalhadores de forma
mais racional e menos fragmentada (“Crônica do trabalho: no olho da rua", Revista
Época, 15/11/2018).
Em decorrência do término da contribuição sindical obrigatória, os sindicatos laborais
foram desafiados a se reorganizar. É nessa reorganização que podem emergir as
mobilizações de trabalhadores pela via das redes sociais. Afinal, o Brasil não está fora
do mundo.
José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP