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O ESTADO DE S. PAULO
4 de outubro de 2017
Coação não casa com boas relações do trabalho
José Pastore
Uma regra básica para as boas relações do trabalho é o respeito à
liberdade de empregados e empregador. Isso ajuda a criar um
sentimento de satisfação no ambiente de trabalho, eleva a
produtividade e favorece uma imagem positiva da empresa.
Nos Estados Unidos, os empregadores são obrigados a conceder as
necessárias condições para seus empregados quando estes decidem
encetar uma campanha para criar um sindicato. Em contrapartida, os
empregados são obrigados a respeitar os empregadores quando estes
decidem lançar simultaneamente uma campanha contra a criação de
sindicato.
Por meio dessas campanhas, são veiculados argumentos a favor e
contra a ideia. A que obtiver a maioria de votos dos empregados será
vitoriosa. A parte vencida terá de respeitar a vencedora.
No desenvolvimento dessas campanhas o respeito mútuo tem de ser
observado a cada passo. O empregador não pode acenar com
promoções e aumento salarial para abortar a criação do sindicato. Os
empregados não podem induzir seus colegas a paralisar o trabalho para
afrouxar o ímpeto da campanha empresarial. Condutas desse tipo são
denunciadas e punidas pelo Conselho Nacional de Relações do
Trabalho com advertências e multas pesadas.
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Estranhei muito a informação publicada no Estadão de quarta-feira, 3,
segundo a qual alguns empregadores estão fazendo promessas e
ameaças para forçar seus empregados a votar no candidato da sua
preferência. Além de constituir grave ilegalidade ninguém pode ser
obrigado a fazer ou deixar de fazer o que não consta de lei uma
conduta desse tipo é predatória para o clima de bom entendimento que
deve presidir o relacionamento entre empregados e empregadores. É o
jogo do perde-perde que gera desconfiança, desentendimento e
desrespeito - atitudes altamente prejudiciais a um ambiente de
trabalho sadio e à imagem da empresa que pretende ser bem vista por
seus consumidores, fornecedores, acionistas e financiadores.
*Professor da FEA-USP e membro da Academia Paulista de Letras.