O ESTADO DE S. PAULO
27 de setembro de 2018
O desemprego e a reforma trabalhista
José Pastore
Na campanha eleitoral, muitos candidatos argumentam que o desemprego e os
poucos empregos gerados nos últimos 12 meses – na maioria, informais,
intermitentes ou em tempo parcial – são frutos da reforma trabalhista (Lei n.º
13.467/2017).
Ah! Que bom seria se esses problemas pudessem ser resolvidos por lei. Se
isso fosse possível, não existiriam desemprego e trabalho precário em nenhum
país do mundo.
É desnecessário teorizar sobre o óbvio. A geração de emprego depende
basicamente do crescimento econômico e dos investimentos públicos e
privados. É exatamente o contrário do que ocorreu no Brasil no período de
2015-2018. O grave desequilíbrio das contas públicas esterilizou a capacidade
do governo de investir em vários setores, em especial em infraestrutura, que,
como se sabe, é fonte de muitos empregos diretos e indiretos.
Calcula-se que, para atingir níveis internacionais de qualidade, o Brasil
deveria investir no mínimo 5% do PIB em novas obras por várias décadas.
Não temos fôlego para isso. Com dificuldade, o investimento nesse setor tem
ficado ao redor de 1,5%. Estradas, ferrovias, portos, redes de comunicação,
etc., se deterioram a olhos vistos. O atraso é impressionante. Basta citar que
em pleno século 21 somente 12% das rodovias brasileiras são pavimentadas.
Isso tem graves reflexos. Infraestrutura precária compromete a produtividade
do setor privado, reduz o lucro das empresas e inibe brutalmente a geração de
empregos.
A crise econômica não se limita à infraestrutura, é claro. Há claros sinais de
estagnação nos serviços e no comércio de atacado e varejo – que sempre
responderam por uma boa parte dos novos postos de trabalho. Os números são
igualmente preocupantes. Exemplo: o volume de serviços em agosto deste ano
caiu 11% quando comparado a 2015. Na indústria a produção está na mesma
situação e a construção civil se manteve parada nos últimos três anos.
A lucratividade das empresas não financeiras que ainda se mantiveram ativas
caiu de forma surpreendente. A margem de lucro líquido das indústrias
(exceto Petrobrás e Vale) recuou de 2,9%, no primeiro semestre de 2017, para