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Sexta feira 01 de dezembro de 2017
Trabalho qualificado: a lição do Japão
José Pastore
Nos anos de 2010-13, quando tivemos forte crescimento do PIB, ficou clara a falta de
mão de obra para preencher as vagas existentes nas empresas brasileiras, refletindo o
crônico desalinho entre a baixa qualidade do ensino e as necessidades das empresas.
Com a esperada retomada do crescimento nos anos de 2018-19, o quadro será diferente?
Será que a reforma do ensino médio terá dado seus frutos naqueles anos?
Nos dias atuais, a evolução tecnológica se a uma velocidade muito superior à da
modernização dos currículos escolares. Muitos duvidam, com razão, que a escola possa
continuar como o principal provedor de trabalho qualificado. Ela fará um bom papel
se ensinar os alunos a pensar, dominando a linguagem, as operações aritméticas e os
conceitos gerais da lógica cientifica.
O Japão teve durante muito tempo um sistema de garantia de emprego até a
aposentadoria. Apesar disso ter diminuído a partir da recessão dos anos de 1990, mais
de 65% dos profissionais, ainda hoje, trabalham na mesma empresa por mais de cinco
anos e 40% por mais de dez anos (Makoto Fujimoto, What is Japanese long-term
employment system?, Japan Labor Issues, Setembro 2017).
As empresas recrutam os jovens recém formados das escolas profissionais e das
faculdades e cuidam do seu treinamento em serviço. Comparadas com as concorrentes
americanas, as empresas japoneses investem nove vezes mais em treinamento do que
suas rivais dos Estados Unidos. A qualidade dos profissionais é considerada como o seu
mais precioso capital e principal responsável pelos ganhos de competitividade. O
treinamento é contínuo e compreensivo. No Japão, espera-se que cada empregado, além
de dominar bem a sua profissão, se torne multifuncional, comportando-se como um
gestor permanente, articulando suas funções com o desempenho econômico da empresa.
Nos primeiros anos de firma, devido à inexperiência, o salário dos recém-chegados é
bem superior à sua produtividade. Para equilibrar a equação, as empresas continuam
investindo no seu treinamento, mantendo-os até o ponto em que a capacidade de
aprendizagem decai e os salários voltam a superar a produtividade. O que ocorre com os
idosos nesse momento? Muito simples: eles são transferidos para outra firma dentro ou
fora do grupo econômico e ali são re-treinados para manter boa produtividade em nova
função. Ou seja, as empresas não param de treinar.
Como a população envelhece depressa, novas leis foram criadas para manter os
empregados com mais de 60 anos trabalhando em contratos flexíveis. As empresas têm
recebido estímulos para manter os idosos trabalhando e os jovens são estimulados a
procriar. O novo lema do Japão é "crescer para criar esperança; procriar para alimentar
grandes sonhos; e melhorar a segurança social para garantir paz de espírito".
O Brasil está no extremo oposto desta história. Entre nós, o desalinhamento entre
qualificações e necessidades é dos mais altos do mundo (Global skill index, Hays:
Recruiting Experts, 2017). Historicamente, a legislação trabalhista estimulou a
rotatividade dos trabalhadores, cuja qualidade de educação recebida, na média, era
bastante precária. Nesse quadro, as empresas, com raras exceções, pouco investiam no
treinamento de seus empregados.
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O Brasil precisa reverter essa situação. A reforma trabalhista pode ajudar a reduzir a
rotatividade e estimular novas formas de contratação o que poderá levar as empresas a
investir em treinamento e, com isso, elevar a produtividade como fazem as japonesas.
Jo Pastore é professor da Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho de
Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da Academia Paulista de
Letras