Artigos 

Publicado em Jornal da Tarde, 06/08/2008.

A cultura da leniência

O que você faria se comprasse uma empresa em que os empregados estavam acostumados a ganhar seu salário independentemente de seu desempenho?

Pois essa foi a situação no regime comunista. A Alemanha enfrentou esse desafio nos anos 90 quando incorporou os alemães do leste que, durante quase 50 anos, viveram no mundo das certezas, sem se preocuparem com a produtividade. O Estado era o dono de tudo. Os empregados eram funcionários públicos. Não havia estímulo para trabalhar mais e melhor. Era uma situação como a de Cuba em que só agora se dispõe a remunerar o médico e um professor diferentemente do um porteiro do hospital ou do faxineiro da escola.

Hoje em dia, o mesmo está ocorrendo nos países ex-comunistas que entraram na União Européia em 2004. A garantia de emprego e de salário era independente do desempenho das pessoas.

Esses países têm uma enorme potencialidade de crescimento e muitos estão crescendo rapidamente. É o caso da Eslováquia, Estônia, Eslovênia, Republica Checa e outros que vêm atraindo muito capital externo.

Mas, as empresas que para ali se mudam, encontram uma população que passou meio século sem saber o que é mérito. Sim, porque no regime comunista o importante era ter a carteirinha do partido, pouco importando o desempenho no trabalho. Era uma cultura de aversão ao risco, o que é desastroso para a criatividade humana e para o progresso social.

Essa é a situação das empresas que chegam naqueles países. A grande maioria, porém, está evitando trazer trabalhadores estrangeiros. Elas decidiram recriar a cultura que valoriza as pessoas e as retribui por isso. A distribuição de ações, a participação nos lucros e outras medidas vêm sendo usadas para estimular os trabalhadores locais (aliás, bem educados) a buscar a excelência no que fazem, sem nenhuma referencia à sua filiação partidária. É uma verdadeira revolução social.

Enquanto isso, o governo brasileiro entope os quadros com filiados a partidos, desconsiderando a sua qualificação e desempenho, e atuando com a maior tolerância possível – como é o caso dos funcionários públicos que ganham seus salários sem trabalhar. Esse é o premio que o governo dá, por exemplo, para quem faz greve em atividades essenciais, prejudicando a população.

Há muitos bons funcionários no Brasil. Mas o governo atual optou pela cultura da leniência no setor público. Nesse ponto está coerente com a nossa Constituição onde a palavra direito aparece 76 vezes, dever, quatro vezes, produtividade, duas e eficiência uma!