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Publicado no Jornal da Tarde, 05/07/2005.

Os idosos estão na moda

Quem diria que, de repente, as empresas começariam a se interessar pelo trabalho dos idosos? Pois é isso que está acontecendo em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.

Nos países mais avançados as moças não querem ter filhos. O número de jovens na força de trabalho diminuiu drasticamente enquanto o número de idosos aumenta. No Japão e na União Européia, as mulheres têm, em média, 1,28 filhos. Nos Estados Unidos o problema é mais ameno, pois a taxa de fecundidade é de 2,04 filhos por mulher. Por sua vez, a proporção de japoneses com mais de 65% já é de 20%. Era 10% há dez anos. Na Itália dá-se o mesmo e a Alemanha atingirá essa marca em 2009.

No caso do Japão, o governo já lançou todos os tipos de campanhas para estimular a procriação. Recentemente, jovens casais ganharam um cruzeiro marítimo de 7 dias, pago pelo governo, para se animarem a ter um filho. A viagem foi bem "curtida" por eles, mas os filhos não foram produzidos.

O que fazer para ter na força de trabalho a necessária massa de jovens? No passado, os países recorriam à imigração. Mas, depois da onda de terrorismo, as nações tornaram-se relutantes. Na União Européia o debate em torno do assunto é dos mais acalorados. O continente já está repleto de árabes hindus, vietnamitas, coreanos e outros povos. Mais importante do que o medo do terrorismo está o pavor dos nativos perderem os empregos para os imigrantes.

O Japão sempre foi avesso aos imigrantes embora, ultimamente, tenha se aberto um pouco com os "dekasseguis". Mas migração em massa é impensável. Em vista disso, a solução está sendo a recontratação dos idosos. Segundo dados da OIT, cerca de 71% dos japoneses aposentados estão trabalhando. É uma proporção impressionante!

Os idosos de hoje são sadios e produtivos. A maioria consegue trabalhar em tempo integral; outros trabalham em tempo parcial ou em dias alternados; há ainda os que executam projetos. Ao utilizar todas essas modalidades de trabalho, o Japão está conseguindo manter o mínimo necessário em sua força de trabalho, com a vantagem de ocupar o idoso, postergar a aposentadoria e aliviar as contas da Previdência Social.

O Brasil está em posição vantajosa, pois a taxa de fecundidade continua mais alta do que a dos países avançados (2,38 por mulher). Mas essa vantagem é temporária, pois a fecundidade vem declinando e a vida média vem se alongando.

Entre nós as empresas também começam a se interessar pelos idosos. Isso é especialmente visível no comércio e serviços. Inúmeros supermercados empregam de donas de casa idosas como fonte de atração e fidelização dos clientes. Outros ramos do comércio e dos serviços estão indo para o mesmo caminho como é o caso de escolas que admitem professoras aposentadas para fazer supervisão no recreio ou clínicas que preferem os idosos para assistir aos doentes.

O fato é que, no mundo de hoje, um grande número de idosos saudáveis tem condições de continuar trabalhando. Em pesquisa realizada em 2001, 85% dos americanos pretendiam trabalhar além dos 65 anos de idade. E isso já está acontecendo. A maioria porque precisa de mais renda e uma grande parte porque deseja cuidar da sua saúde mental.

Tudo isso nos leva à conclusão que a idade de aposentadoria precisa ser elevada não só para atender a nova ordem demográfica, mas, sobretudo, para amenizar as despesas da Previdência Social. Muitos países – Estados Unidos e Inglaterra foram os pioneiros - já adotaram um sistema progressivo, saindo dos 60 anos e chegando aos 67 anos ao longo de dez anos. Esses mesmos países já consideram ampliar a idade de aposentadoria para 70 anos até 2020. Tal expediente cabe muito bem para o Brasil, onde a vida média ultrapassou os 70 anos e a Previdência Social está obrigada (ainda) a aposentar pessoas com 55 anos. Não há saída. Precisamos de uma nova reforma da Previdência Social.